sábado, dezembro 31, 2005

adeus ano velho...


Feliz 2006! Que surjam mais oportunidades para o desenvolvimento científico do Brasil, que a ciência renove seus compromissos éticos, promovendo e disseminando conhecimento, educação e cidadania. Que seja um ano de oportunidades para a pesquisa e os pesquisadores (principalmente os jovens doutores!). Que haja investimento na universidade pública, na formação de recursos humanos qualificados, valorização dos profissionais de ensino/educação (fundamental, médio, superior...), etc, etc, etc...
e por aí vai...
Abraços a todos e sucessos em 2006!
ana claudia

sábado, dezembro 17, 2005

encontro internacional

Depois de uma ausência prolongada, retorno para avisar que está em andamento o "2005 Annual Meeting of the Entomological Society of America", encontro anual da sociedade Americana de Entomologia (= estudo de insetos). O encontro estava originalmente previsto para ocorrer na segunda semana de Novembro, em Fort Lauderdale na Flórida, EUA. Mas devido ao "mau-tempo", leia-se Furacão Wilma, o encontro foi adiado para esta semana (de 15 a 18 de dezembro). Hoje serão apresentados vários painéis do lab. de Genética Animal da Unicamp, que conta com uma "comitiva" expressiva este ano (incluindo 5 alunos de pós-graduação!). Semana que vem estarei de volta ao laboratório e pretendo retomar a atividade deste blog - desculpem-me aqueles que eventualmente consultam este site pela defasagem... Aliás, hoje encontrei uma Brasileira, professora assistente da Penn State University, com artigos publicados na Science e na Nature (área de Ecologia Química), que me perguntou sobre a situação da pesquisa científica no Brasil e a oportunidade de inserção de jovens pesquisadores. Pergunta difícil... ela tem vontade de voltar para o Brasil, mas dúvidas quanto ao país ter uma política científica de continuidade e investimento que valorize o pesquisador e lhe dê condições de trabalho. Pois depois de uma maratona de concursos em 2005 só posso dizer que eu também tenho mais dúvidas do que certezas com relação ao futuro da pesquisa científica brasileira. Só esqueci de perguntar se ela era menor de 35... para poder continuar atiçando minha velha birra... É isso, espero estar "postando" de forma mais constante a partir de agora, ao menos vale a intenção.

terça-feira, novembro 08, 2005

gênio ou ingênuo?

Sei que vocês não vão acreditar, mas vou arriscar assim mesmo: acho que a idéia que tive (sério, pensei nisso sozinha!) de realizar uma mini-entrevista com pesquisadores brasileiros no exterior revelando alguns "flashes" curiosos sobre expectativa e realidades conquistadas (originalmente uma idéia para não deixar a "II Semana Nacional de Ciência e Tecnologia" passar em branco) foi maquiada, ampliada e contextualizada pela Folha de SP no seu caderno MAIS! de Domingo (06/11/2005). Para agregar valor jornalístico, foram eleitos "gênios" ao invés de pesquisadores comuns (esclarecimento justo: ao menos um dos autores da reportagem - ML - considerou a posteriori que o termo "gênio" não "pegou bem") e compilada uma lista de "perfis" (o que deixa a coisa toda mais sofisticada), ao invés de um mini-questionário impessoal e mínimo. Me desculpem vocês que contribuíram aqui, mas a notícia da Folha, reproduzida no "blogue" do jornalista Marcelo Leite, teve mais IBOPE. Um dia a gente chega lá... primeiro será preciso a medalha de mérito da Nature (= ter uma publicação lá) ou da Science para poder ter passe na mídia. Não se enganem: acho que esses caras (ah é, tem que ser homem também) devem ser feras mesmo e sua contribuição deve ser reconhecida e aplaudida (é verdade!), mas vamos também relevar o importante papel da infra-estrutura Norte Americana de fazer pesquisa no sucesso destes jovens doutores do balacobaco (ah sim, tem que estar ou ter estado sob os gloriosos céus da terra prometida - EUA), para ampliarmos um pouco mais nossos horizontes e vislumbrarmos outros autores do processo de produção de geniosidades. Pensei que minha crise (oriunda de um certo constrangimento com alguns pontos da reportagem) tinha passado, mas vejo que ela é resistente (ô praga!) ... vou submeter um artiguinho para a Nature para ver se passa (a crise, porque o artigo ainda tá difícil, oxalá meu dia virá :) :) )... mas não deve ser antes dos 35 anos - em breve (ah é, tem que ser menor de 35). Eventuais gênios (improvável...) e humanos comuns (alguém, talvez?) que possam estar lendo este comentário, me desculpem pelo tom azedinho do "post", mas estou numa maratona de atividades sem precedentes e acho que preciso injetar células-tronco no cérebro (mas não daquelas contaminadas, como as descobriu o Alysson (um dos perfilados da Folha de SP), quero as que não foram tratadas com tripsina: as células-tronco ISO9000, que provavelmente serão descobertas nos EUA, com financiamento do NSF, publicadas na revista Nature por um líder de equipe do sexo masculino com menos de 35 anos, com formação acadêmico-científica e nacionalidade brasileiras! É isso aí! Sucesso aos perfís brasileiros, incluindo os da supra-citada reportagem, e criatividade e bom-senso ao jornalismo científico do Brasil, em especial ao da Folha SP, que merece reconhecimento e... algumas críticas também, construtivas, por que não?
Desculpem-me aqueles que não entenderam nadica-de-nada deste post-desabafo. Ufa! Chega de crise!

Quem dá mais?!

Incrível: li hoje no Jornal da Ciência sobre a compra e venda de teses que tem movimentado o mercado negro da academia. Uma tese pode render 2.000 reais para o autor-traficante e promover o status, a carreira e o salário do autor-laranja. Só falta conseguir promover também a auto-estima do sujeito (bem, remorso ou conflitos éticos esse pessoal não deve ter mesmo!). Se não fosse piada de mau-gosto, diria que o mercado para pós-graduandos e pós-docs está se ampliando e se diversificando... Peloamordedeus alguém faz alguma coisa: isso já é o fim da picada. Tese agora virou CNH, que se compra de despachantes obscuros?!?! Que frustrante... Nota ZERO!

domingo, outubro 09, 2005

doutores sem fronteira...2

Continuando com os depoimentos sobre a experiência de pós-docs/doutorandos no exterior e a perspectiva quanto ao retorno ao Brasil...
Caso 2: PA
1) Nome ou alguma forma de identidade

PA – 37 anos natural de SP, mas carioca de coração.

2) área de formação/especialização no exterior

Biólogo formado em licenciatura pela UFRJ/92; mestre/96 e doutor/05 pelo IOC/FIOCRUZ; Pos-doutorado em imunologia da tuberculose/em andamento

3) expectativas quanto à experiência no exterior

Tive alguns percalços no início aqui nos EUA, como de praxe para quem está mudando de cultura e ambiente, mas nada que não pudesse ser superado aos poucos. Hoje, posso dizer que esta fase inicial nos serve de pavimentação para que ganhemos maturidade e encaremos as coisas sob uma outra ótica. Assim, vemos o Brasil com outros olhos, e as maravilhas de nosso povo com ainda outros. Mas também vem as comparações culturais, que deixam muito a desejar ao nosso povo quando se trata de coerência, ética, respeito e boa vontade. No que se refere ao trabalho em si, muitas coisas que vejo por aqui poderíamos implementar no Brasil, salvo as limitações orçamentárias e tecnológicas.

4) avaliação do confronto "expectativa X realidade"

Não tive este tipo de conflito pois venho de um laboratório na FIOCRUZ onde quase tudo o que faço por aqui, também poderia ser feito por lá. Porém, as facilidades que aqui encontro são tamanhas em comparação ao Brasil. Do tipo: uma análise que estamos fazendo e que teremos resultados já no mês que vem demoraria pelo menos um ano por lá, caso já tivessemos também os equipamentos montados.

5) expectaiva ou realidade quanto ao retorno ao Brasil

NENHUMA. Infelizmente, nosso país não me deu alternativas senão migrar para os EUA em busca de oportunidades. Não teria condições de viver de bolsas por uma eternidade, mesmo com um diploma de Doutor na mão. Isso sim me deu garantias de emprego por aqui. Concursos públicos são muito escassos na área de pesquisas, apesar do déficit de pessoal. Uma grande pena, pois apesar do investimento e apoio que o Estado brasileiro me deu ao longo dos últimos anos, e quando me sinto mais produtivo do que nunca em minha vida profissional para retornar este investimento ao povo brasileiro na forma de produção científica para nosso país, vim produzir e trabalhar para um país que não me formou ou investiu em minha carreira, mas veio colher os frutos deste investimento alheio.

6) top 5 aspectos positivos e top 5 aspectos negativos sobre sair do Brasil/viver no exterior

POSITIVOS:

Mudança cultural, Recompensa monetária justa, Contato facilitado com cientistas top na minha área, Domínio de uma segunda lingua e Amigos de outras nacionalidades.

NEGATIVOS:

Saudades da família, Saudades da pátria, Frio muito intenso, Inverno depressivo, distância da nossa cultura e Saudades dos amigos do Brasil.

Saudade não tem fim... abraço e sucesso PA, ana

doutores sem fronteira...

Para não deixar passar em brancas nuvens: a segunda SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA reuniu inúmeros eventos em instituições de ensino e pesquisa de todo País. Uma proposta deste blog foi apresentar algumas impressões de doutores brasileiros no exterior, de modo a tirar algumas questões da "marginalidade" nesta oportunidade de discutir o futuro da ciência e tecnologia no Brasil. Os textos enviados para este blog foram publicados na íntegra, o anonimato foi sugerido como uma opção e a proposta foi enviada no formato de um questionário, cada questão pode ser respondida individualmente ou na forma de um texto, integrando todas as respostas. Nas próximas postagens estarei apresentando estes testemunhos e agradeço sinceramente àqueles que gentilmente dedicaram um pouco do seu tempo nestas reflexões. Muito obrigada e sucesso, no Brasil ou fora dele.

As questões:

Texto introdutório: "Estou pensando em publicar no blog respostas de pesquisadores brasileiros, que estiveram ou estão no exterior, a um curto questionário. Pensei em ilustrar as "expectativas e realidades" enfrentadas pelo pós-doc ou doutorando nesta experiência. Seria algo assim:

1) nome ou alguma forma de identidade (apelido, pseudônimo - se quiser ficar anônimo);
2) área de formação/especialização no exterior;
3) expectativas quanto à experiência no exterior;
4) avaliação do confronto "expectativa X realidade";
5) expectaiva ou realidade quanto ao retorno ao Brasil;
6) top 5 aspectos positivos e top 5 aspectos negativos sobre sair do Brasil/viver no exterior"

Caso 1: Helô

"Meu nome é Heloisa, ou simplesmente Helô. Graduei-me em Ciências Biológicas pela UNICAMP, onde também fiz meu mestrado (em Microbiologia) e doutorado (em Biologia Celular). Agora estou nos Estados Unidos, em Nashville, TN, na Vanderbilt University, para um pós-doc, em Biologia Celular, na área de Nefrologia.

A minha expectativa em relação ao meu futuro após essa experiência é que eu consiga um diferencial para, quem sabe, conseguir um emprego no Brasil que me agrade. Quando digo que me agrade, estou falando que seja numa cidade boa, numa universidade/faculdade legal. A chance de vir pra cá apareceu meio que de bandeja, já que uma amiga minha estava aqui, soube da vaga e me avisou. Eu achei que seria uma boa oportunidade, pois, embora trocasse de tecido (de próstata para rim), eu ainda estaria dentro da Biologia Celular e mais especificamente, continuaria com Matriz Extracelular. Outro ponto importante e que me deixou um pouco animada foi ver que existem poucas pessoas no Brasil que publicam nessa área. Será uma chance a mais de poder “introduzir” uma linha nova!

Acho que logo que a gente chega num lugar novo (e nem precisa ser fora do país), a gente cria muitas expectativas, principalmente querer trabalhar muito para ter vários resultados. Bom, logo os ânimos acalmam pois a gente se dá conta de que o tempo passa muito rápido, mas as coisas acabam não andando na velocidade que você gostaria que fosse. Agora estou com seis meses de trabalho e se tivesse que apresentar resultados, não os teria... Chega a ser um pouco desanimador, mas por outro lado as promessas são grandes e a isto associa-se o fato de sermos mais “experientes” e sabermos que as coisas demoram um pouco a acontecer. Meu chefe diz que um bom pós-doc é de 2-3 anos. Tenho que concordar. Por outro lado, acho que para nós, qualquer experiência é válida. O problema de ficar pouco tempo (1 ano) é que provavelmente não dará tempo de fechar um paper (mas isso também depende um pouco da área) e, embora não se perca a publicação, provavelmente seu nome não será mais o primeiro... Mas eu penso que um ano é melhor do que nada. É legal ver o jeito como eles pensam, a realidade do trabalho deles e ver o porque de algumas coisas serem fáceis aqui e também ver alguns defeitos e até mesmo inexperiências, coisas talvez que a falta de dinheiro ou a ciência mais básica resolve mais facilmente.

Por enquanto sei que quero voltar pro Brasil e não penso em outra possibilidade. Mas as oportunidades aqui são muito boas e dependendo do grau de descomprometimento que se tem com pessoas/coisas do Brasil, profissionalmente não há dúvida de que aqui é um bom lugar pra um biólogo. Como faz pouco tempo que estou aqui, não tenho pensado muito sobre as expectativas que tenho em relação ao Brasil. Sei que a realidade é difícil e vejo isso pelos meus amigos que aí estão!

Minha lista de pontos positivos: crescer pessoalmente, trabalhar num país onde se investe na pesquisa, aprender a discutir resultados, conviver com pessoas de toda parte do mundo, aumentar a “network”. Os pontos negativos: estar longe da família e dos amigos, muitas vezes não conseguir se fazer entender (mas este é um problema que varia de pessoa pra pessoa)... Que bom que por enquanto só sei dois! Isso quer dizer que ainda estou bem :)!!!"
É isso aí Helô! Estamos na torcida pelo seu sucesso! ana

sexta-feira, setembro 30, 2005

Contra, a favor ou muito pelo contrário

Às vezes me parece que não tem nada que combine mais com americano do que marketing... Uma batalha judicial está mobilizando leigos e cientistas nos Estados Unidos: pais preocupados com o educação dos filhos entraram na justiça para evitar que o "Intelligent Design" ou teoria do Design Inteligente seja ensinado nas escolas como alternativa à teoria da evolução de Darwin, baseada na seleção natural. Alternativamente, explicam a complexidade e a diversidade biológica pela intervenção sobrenatural. Esta polêmica já não é de hoje, ontem chamavam-se criacionistas, o termo moderno é ID (Inteligent Design), e sabe-se lá o que nos aguarda o futuro. Seja como for, há um abaixo-assinado sendo divulgado na internet (eu recebi um email de um dos pesquisadores mais renomados da área de genômica mitocondrial, o Dr. Jeffrey Boore do Joint Genome Institute) por um período de 4 dias que pretende obter mais de 4000 assinaturas de cientistas (parece que já conseguiu), incluindo arqueólogos, biólogos, evolucionistas, paleontólogos, biologistas moleculares e teólogos até! E vejam pela foto que há opções para todos os gostos, para recém-nascidos, dorminhocos, bebedores de café, animais e, claro, a tradicional camiseta para divulgação da proposta. Depois, com tempo, eu incluo os links para um ou outro site interessante que foi comentado aqui, OK? Inclusive dos fornecedores de "material de propaganda" para quem quiser dar um presente para seu sobrinho recém-nascido... haja criatividade!

segunda-feira, setembro 26, 2005

projeto genoma musical

O "Music Genome Project (MGP)", fundado por Tim Westergren e colaboradores em 6 de janeiro de 2000, desenvolve a idéia de criar um ambiente onde a essência musical de um indivíduo fosse captada (seria por aí a analogia genômica?) . Foram compiladas centenas de "genes" musicais (???) resultando num abrangente "Music Genome". Seria como se cada música carregasse uma identidade musical, algo além do que simplesmente o gênero muscial, uma combinação de atributos mais fundamentais como melodia, harmonia, ritmo, instrumentação, orquestração, arranjo, letra e canto (seriam estes os "genes"?). Nos últimos 5 anos esta iniciativa (MGP), ouviu mais de 10.000 músicas de diferentes artistas, analisando cada atributo individualmente, de modo a criar uma "extraordinária coleção de análises musicais" - segundo seus autores. A proposta é servir como guia pessoal para explorar seu universo musical preferido (mesmo que desconhecido para o próprio interessado) . Confira se seu genoma se identifica com a proposta em www.pandora.com (mais sobre o projeto aqui)

Essa nota (sem abusar do trocadilho musical) saiu semana passada na Folha (de São Paulo) Informática, e como é mais uma alusão ao termo genoma que foge do convencional, achei curioso incluir este comentário.

quinta-feira, setembro 22, 2005

dar nome aos Bos taurus

Bos taurus Linnaeus, 1758. Apesar do inconveniente fonético, este é o nome científico que batiza o boi (ou mais rigorosamente, uma espécie de bovídeo). A nomenclatura binomial de Lineu foi uma das contribuições mais significativas para o desenvolvimento das ciências biológicas. A taxonomia, a ciência que estuda a classificação dos seres vivos, é bombardeada com a descrição de novas espécies continuamente, 24hs/dia... a necessidade de uma descrição criteriosa para a correta identificação dessa mega-diversidade biológica traz consequências: o conhecimento em taxonomia é visto, muitas vezes, como um conteúdo hermético, de difícil acesso e, deste modo, pouco "democrático". A Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica (ICZN) lançou a proposta de criar um registro "on-line" de acesso público para a nomenclatura animal, e acaba de publicar esta intenção como um comentário na revista Nature desta semana ("A universal register for animal names"). A idéia é ter um banco de dados (ZooBank) para armazenar e gerenciar novos nomes taxonômicos, de modo a promover uma maior padronização destes dados e disponibilizar um cadastro com acesso otimizado para a comunidade científica, instruída na arte da taxonomia ou não. Andrew Polaszek (secretário executivo da ICZN) cita a iniciativa e o formato do GenBank como modelos pra o ZooBank, e acredita que eventuais conflitos (cadastro no banco X registro via publicação científica) serão facilmente administrados. Ele aproveita também para sugerir que métodos de taxonomia molecular (como o DNA barcodes) poderiam beneficiar-se imensamente desta iniciativa.
Li uma crítica recente no Jornal da Ciência da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) onde o Dr Mário de Vivo, curador do museu de zoologia da USP, afirma ser muito fácil para ele encontrar qualquer informação taxonômica sobre sua área de especialidade na literatura científica disponível e não vê maior relevância na implementação de algo como o ZooBank... pois eu só vejo benefícios (mas não sou taxonomista)!

PS - A crítica do Dr. Vivo pode estar sujeita a algum viés de memória, pois li o comentário apenas uma vez e não sei se distorci de alguma forma seu conteúdo (estou tentando recuperar o artigo onde li isso, se alguém tiver o texto original pode me mandar uma cópia? Obrigada!)

terça-feira, setembro 20, 2005

habeas corpus in mens in-sana

Genoma agora virou argumento a favor da liberdade de chimpanzés: segundo o Jornal Folha de São Paulo de hoje, o promotor Heron Santana (+ 2 promotores, + 4 professores universitários e + 4 diretores de ongs ambientalistas) solicitou um habeas corpus para soltar um chimpanzé (aliás, umA chimpanzé) do Zoológico de Salvador (BA) argumentando (entre outras coisas) que deve-se considerar que o genoma do chimpanzé é 99,6 % idêntico ao genoma humano. Consta inclusive uma citação dizendo que a chimpanzé "é uma pessoa que não pode permanecer presa." Outras informações da reportagem alertam para o fato das condições precárias e impróprias da "carceragem" da pobre macaca, o que por si só já justificaria uma transferência, mas fazer alusão à identidade genômica quase-humana foi uma novidade para mim, um desses desdobramentos imprevistos da ciência ou da má-interpretação e aplicação questionável (no menos precipitada) de seus resultados. Qual será a opinião da macaca sobre isso?

quinta-feira, setembro 15, 2005

Harry e o mundo (não determinista) de Mendel...

Ingenuamente pensei que a inclusão, pela revista Nature, de um comentário sobre analogias entre os princípios de Mendel e as histórias de Harry Potter (comentado anteriormente neste blog sob o título "Harry Potter e o mundo de Mendel") fosse muita "divulgação" (afinal o Indice de Impacto da Nature é 32,182) para apenas uma curiosa circunstância... enfim, ao que tudo indica eu estava enganada:

Fato é que foi publicada esta semana uma réplica (Nature 437, 318 doi: 10.1038/437318d) entitulada: "Harry Potter and the prisoner of presumption" de Antony N. Dodd, Carlos T. Hotta & Michael J. Gardner (cientistas de Cambridge!) mostrando que o assunto é mais polêmico e de interesse mais amplo do que eu imaginei. Estes autores afirmam: "We believe the assumption that wizarding has a genetic basis to be deterministic and unsupported by available evidence", ou seja: "acreditamos que a suposição de que a habilidade bruxesca tem base genética é determinista e não é apoiada pelas evidências disponíveis" (tradução livre).

E eu aqui trabalhando com moscas... seja como for, a crítica ao determinismo genético (vigorosamente empunhada pelo jornalista Marcelo Leite, ver blog Ciência em Dia) também faz parte do mundo de Harry afinal.

Nota: sobre o índice de impacto de revistas científicas, devo esclarecer que o valor 32 atribuído à Nature é calculado com base no número de citações dos artigos desta revista (indiretamente poderia-se extrapolar que o índice de impacto reflete, em parte, a contribuição dos artigos publicados pela revista na produção de conhecimento científico). Dentre as revistas científicas brasileiras, por exemplo, apenas uma (a Journal of the Brazilian Chemical Society) tem índice de impacto maior do que, pasmem, 1 (um, isso mesmo). O índice de impacto desta revista é de 1,161 (qual havia sido o seu palpite?) .

terça-feira, setembro 13, 2005

Ciência verde-amarelo

De 3 a 9 de outubro será realizada a segunda "Semana Nacional de Ciência e Tecnologia" com eventos diversificados (exposições, cursos, palestras, mesas redondadas, vídeo-conferências, etc.) em inúmeras instituições/unidades de pesquisa de todo Brasil. Na semana da C&T Nacional estarei 100% dedicada a outra atividade e, portanto, 'fora do ar' com relação ao blog. Mesmo assim, irei bloggar uma série de depoimentos informais sobre "Doutores sem fronteiras" que contam um pouco do histórico recente de jovens doutores (que sairam ou ficaram no País) e suas perspectivas com relação à fazer ciência no Brasil e o mercado de trabalho. Hum... parece interessante! Em breve, neste blog. Fiquem à vontade para incluir sua história (contato via blog ou aclessinger@hotmail.com).

Agregando valores... outra história

O "Annual Life Sciences Salary Survey" publicado pela revista "The Scientist", dá uma idéia do salário pago aos cientistas de diferentes áreas de especialização das Ciências Naturais nos Estados Unidos. A genética é uma das últimas no ranking! E a diferença de valor é significativa quando comparada ao salário-campeão pago ao profissional da área de descoberta de fármacos/drogas. Nem pensar em fazer uma comparação com os salários (ou melhor, salários-bolsas) dos pesquisadores brasileiros. Fica aí uma imagem para reflexão.

sábado, setembro 03, 2005

congresso de genética

Estou temporariamente "fora do ar" devido ao 51° Congresso Brasileiro de Genética da SBG (Sociedade Brasileira de Genética) na próxima semana. O laboratório entrou no 'frenesi' pré-congresso para preparação de apresentações e trabalhos, nossos painéis podem ser identificados pelos códigos: GA313 (métodos em genômica mitocondrial), GA 315 (estrutura e evolução da região-controle do DNAmt de moscas-varejeiras), GA316 (estrutura da região ITS2 de moscas-varejeiras e potencial filogenético), GA317 (microssatélites em Cochliomyia macellaria), GA318 (microssatélites na mosca-da-bicheira, Cochliomyia hominivorax), GA319 (estrutura e evolução do genoma mitocondrial da mosca-dos-estábulos, Stomoxys calcitrans), GA320 (estrutura e evolução do genoma mitocondrial da mosca-dos-chifres, Haematobia irritans), GA321 (microssatélites na mosca-dos-chifres, Haematobia irritans) e GA323 (análise de marcadores LongPCR-RFLP no DNAmt da mosca-dos-chifres, Haematobia irritans). Vale a pena conferir!

sexta-feira, agosto 26, 2005

Note e Anote: CONNOTEA

Uma idéia bem interessante essa, vinda do mundo virtual, onde o sentido da palavra inovação ganha conotação quase cotidiana:

Um indexador seria uma forma rápida (correndo o risco de ser imprecisa, como já diria o conhecido provérbio) de definir o que é Connotea. Uma iniciativa do Nature publishing group para facilitar a indexação de conteúdos da internet (um serviço de "bookmarking"), principalmente visando facilitar o gerenciamento de conteúdos científicos. Esta iniciativa não é única no gênero, gênero este definido como "Social Bookmarking Tools" (algo próximo a "ferramentas para indexação socializada"), e foi inspirada em del.icio.us, um indexador/gerenciador social de páginas web de conteúdo generalizado.
Uma vez "on-line", o usuário pode acessar sua coleção de sites preferidos de qualquer computador, e ainda torná-los disponíveis para consulta por terceiros (um "bookmark" público). Além disso, a forma de indexar novos conteúdos é dinâmica e os conteúdos podem ser indexados através de palavras-chave (gerando "tags" ou etiquetas) de modo a otimizar consultas neste banco de dados.
Fiquei curiosa sobre a definição desta ferramenta enfatizar a condição "social", para vincular a idéia do compartilhamento (ou socialização) de coleções de "links" individuais. Me pareceu que o termo "public" poderia muito bem (e mais diretamente) transmitir a idéia um serviço que permite o acesso público a essas listas de "links" (eu mesma passei um tempo invocada com o tal "social"). Finalmente entendi que o apelo "social" é mais atraente, basta ver a evolução de sistemas como o (famigerado, para alguns) Orkut, consagrado como "rede social de relacionamentos". O "social bookmarking" parece querer pegar uma carona por aí.
Essa iniciativa (Connotea) foi lançada já em Dezembro de 2004, mas eu comecei a testar a ferramenta agora e achei que valia a pena comentá-la. Nota 9 (provavelmente vou passar a nota para 10 assim que aprender a usar isso direito, e achei o serviço um pouco lento para a consulta em "my library")!

segunda-feira, agosto 22, 2005

e por falar (mal) do Google...

A notícia é velha (dezembro de 2004), mas como eu só vi hoje passa por novidade (!). Já que comentei sobre as teses da Unicamp indexadas no Google, achei informativo e justo também incluir uma visão menos otimista e mais realista sobre uma ferramenta relativamente recente: o "Google Scholar". O "Péter's Digital Reference Shelf de Péter Jacsó começa assim (tradução livre): " o Google Scholar possui grandes falhas na sua cobertura dos registros (arquivos) das editoras..."

O autor deixa um link para que sejam realizados testes comparativos entre um conjunto de bases de dados especializadas na indexação de referências bibliográficas, artigos e resumos de artigos científicos e o "Google Scholar".

Vale a pena dar uma olhada nesta revisão, pois foge ao senso comum (e segundo o autor ele é inflamadamente contestado por isso) e faz uma severa crítica ao sistema Google de buscador na sua versão "escolar".

Mais um trecho da revisão (sem tradução):

"Google, Inc. has the intellectual and financial resources (and the largest group of cheerleaders) to create a superb resource discovery tool of scholarly publications. It needs to:

1 - exploit the highly structured and tagged Web pages with rich metadata readily available in the digital archives of most of the scholarly publishers:
2 - create field-specific indexes for many distinct data elements
3 - offer an advanced menu with pull-down menus for limiting the search by publisher, journal, document type, publication year, etc.
4 - consolidate cited references through the ever increasing DOI registry
5 - collect information of all the relevant materials from the publishers' archive
6 - develop utilities that enable libraries to launch a known-item federated search in the full-text aggregators' databases licensed by the library in order to check if any have the document from a journal that is not licensed digitally from the publisher"

E olha que interessante (ou provocativa, diriam alguns) a frase final:

"I promise that I will write a hagiographic review about Google Scholar when it is done, and done well".

Segundo a Wikipedia:
hagiography é um gênero literário que compreende escritos (ou documentos) que descrevem pessoas sagradas, como líderes espirituais, eclesiásticos e seculares.

sexta-feira, agosto 19, 2005

teses da UNICAMP: via google

Diretamente da página da UNICAMP:
"[18/8/2005] Encontrar as mais de cinco mil teses digitais da Unicamp ficou mais fácil. Há uma semana o Google (200 milhões de acessos por dia), principal buscador da Internet, indexa as teses da Universidade, já disponíveis para consulta pública, o que certamente vai facilitar a procura. De acordo com Luiz Atílio Vicentini, coordenador da Biblioteca Central, a Biblioteca Digital da Unicamp, maior acervo de teses digitais do país, basta realizar uma busca pelo nome do autor de alguma tese ou parte de seu nome para que o Google apresente o link para a tese. O Google responde hoje por 76% das pesquisas realizadas na Internet."
impressão 1: excelente iniciativa google-unicamp para promover a divulgação de conhecimento científico!
impressão 2: como fica a questão de direitos autorais ou da divulgação irrestrita de dados ainda não publicados em revistas científicas?
nota: muitas teses produzidas na Unicamp incluem em seu corpo, cópias de artigos publicados em periódicos científicos e protegidos por leis de "copyright" (algo como direitos autorais da editora da revista). As diferentes comissões de pós-graduação da Unicamp estão procurando estratégias para regularizar a publicação deste material protegido nos acervos digitais da Universidade. Mas essa anexação via Google parece potencializar o problema .

ciência punk

O blog do jornalista Marcelo Leite comenta uma reportagem que saiu na revista Super Interessante entrevistando o cientista punk (é isso mesmo!) e premiado (Prêmio Descartes 2004) Prof. Howard Trevor Jacobs.

Vale pelo inusitado: a imagem do cientista no contexto da rebeldia e do caos, ao invés da tradicional imagem associada ao controle e à formalidade. Por outro lado, a excentricidade sempre acompanhou o mundo científico, basta lembrar um Einstein com a língua para fora e cabelos caóticos.

Vou plagiar o Marcelo Leite no formato: incluí abaixo um trecho da entrevista da Super-Interessante e assinalei em amarelo trechos da resposta que valem a reflexão, aí vai:

"Você declarou que uma noite regada a cerveja pode ser mais produtiva que 20 anos de trabalho solitário em laboratório. Você acha que cientistas podem se beneficiar da atitude punk?
R: Em relação aos benefícios da cerveja, eu disse que "pode", mas não afirmo que faz. Trabalho árduo em laboratório também pode produzir bons resultados. A melhor ciência nasce da combinação entre experimentos rigorosamente conduzidos e a construção de hipóteses criativas, que contraponham idéias aceitas sem uma base de experiências, mas que são "suposições convenientes". Pessoalmente, acho que algumas cervejas, especialmente quando combinadas com um show de punk rock, podem ter um efeito positivo no raciocínio. Estimulação periférica freqüentemente ajuda uma idéia a se desenvolver mais do que quando você se concentra muito nela. "

Concordo com a parte da estimulação criativa provocada durante o "happy hour" com os colegas de laboratório (acho que já comentei algo semelhante em um post anterior).
Ah sim: outra coisa a favor do cientista punk: o trabalho dele é sobre genoma mitocondrial! Nota 10!

quinta-feira, agosto 18, 2005

Harry Potter e o mundo de Mendel

Saiu recentemente uma nota na revista científica Nature comentando como os personagens e as histórias de Harry Potter (best-seller infanto-juvenil) poderiam estimular o aprendizado de conceitos de genética mendeliana em curos básicos. A nota "Harry Potter and the recessive allele" (NATURE vol. 436, pg. 776, 2005) pode parecer até uma brincadeira, misturando num mesmo "caldeirão" (para permanecer na analogia) fundamentos de genética e ficção, mas a intenção é aproximar as crianças do ensino de genética usando elementos do imaginário infantil.

Na história, há bruxos (que possuem poderes mágicos) e trouxas (que não possuem). Os bruxos podem tanto ser filhos de pais também bruxos WW x WW (como Rony Weaslay), quanto de pais trouxas WM x WM (como Hermione ou a mãe do próprio Harry) ou de um casal bruxo-trouxa WW x WM (um tal de Seamus). A herança mendeliana do caráter é facilmente reconhecida, onde o alelo W confere poderes mágicos (no genótipo recessivo) e o alelo M é dominante (fenótipo trouxa). A distinção genótipo x fenótipo também pode ser investigada. Há um caso de fenótipo trouxa nascido de pais bruxos... o que poderia ser explicado pelos raros casos de mutação reversa ou paternidade questonável (!) .

Enfim, a intenção é introduzir esses conceitos de hereditariedade e genética (e os termos gene, alelo, cromossomo, DNA) no universo infantil, utilizando elementos que são caros à criança, como a fantasia! Muito interessante! Nota 10.

Nota 1: se algum fã de Harry Potter identificar alguma inconsistência com relação aos personagens, suas histórias e descendências, peço que me desculpem... não domino todos os aspectos da história...

Nota 2: a primeira vista imagina-se que a autora das histórias de Harry Potter, J. K. Rowling, saiba genética, mas em seu site oficial pode-se encontrar a seguinte afirmação: "... magic is a DOMINANT and resilient gene" - melhor mandar uma cópia do artigo para ela...

terça-feira, agosto 09, 2005

primeira no ranking publicação/docente

Produção científica da Unicamp lidera ranking per capita. A Unicamp é a universidade brasileira com melhor desempenho per capita no índice do ISI (ISI Web of Science), com 1.870 trabalhos científicos publicados em 2004 em revistas científicas indexadas.

origem desconhecida...

Qualquer fenômeno que se queira conhecer com mais detalhes passa necessariamente pela investigação de sua ORIGEM, uma análise histórica poderia revelar qual foi a contribuição de diferentes elementos (ou episódios) no desenvolvimento ou na formação de um determinado processo ou estrutura podendo, inclusive, orientar a previsão de uma possível trajetória ou uma reação futura.

A abordagem histórica promove a identificação de fatos ou momentos decisórios que, em alguns casos, dificilmente poderiam ser reconhecidos ou recuperados apenas a partir da observação de uma realidade contemporânea, estática. Desvendar o passado para conhecer um futuro possível. Esse trânsito entre as diferentes realidades (algumas mais visíveis - como a presente - e outras mais incertas - onde um ou outro registro se perde) confere uma cinética reveladora.

Desculpem-me pela introdução um pouco abstrata, mas espero que estes pensamentos se reflitam na analogia que se segue:

cena 1: da origem de Portugal (ou da formação do povo português)...

Como e quando se deu a formação da identidade nacional dos diferentes povos europeus? Cabe ressaltar que faço essa pergunta para que outros a respondam, pois nunca me aventurei nem pelos campos da antropologia nem da história com relação a esta questão. Aliás, me pergunto se é possível datar a incorporação de componentes sociais, políticos, econômicos, culturais e - por que não? – genealógicos por um grupo humano com origens diversificadas, mas que se quer uma unidade. Então o que dizer dos portugueses? Aos portugueses, a história reservou-se a unificá-los pela regra da exclusão: pelo que eles não são... não são franceses, não são espanhóis, não são turcos, não são italianos, etc. Nem havia a dúvida shakespeareana “ser ou não ser”: definitivamente não ser! Há de se interpretar Portugal e os portugueses no contexto desta nação que evoluiu a partir da não-origem, o que não os privou de conquistar o além-mar, ser uma potência na navegação e colonizar inúmeros territórios em diferentes continentes.

cena 2: da origem de Replicação (do genoma mitocondrial ou DNAmt)...

O genoma mitocondrial possui a propriedade de duplicar-se e transcrever sua informação genética em 13 sub-unidades protéicas. Estes processos dependem da interação harmoniosa de inúmeros elementos mitocondriais e nucleares (codificados pelo núcleo da célula). Há no genoma mitocondrial animal uma região responsável por sinalizar a origem da replicação (ou duplicação) e da transcrição (parte do processo de decodificação da informação genética contida no DNA). No genoma mitocondrial de invertebrados esta região é normalmente chamada de “main non-coding region” (algo como “principal região não codificadora”). Olha aí outra identificação por exclusão: “o que faz esta região? Ela NÃO codifica”. Em vertebrados, onde a estrutura e a função desta região estão melhor estudadas, a denominação é dada conforme sua estrutura (D-loop ou displacement loop) ou função (Control Region). O irônico é que com o avanço da pesquisa passou-se de uma região que não codificava nada para "A" região que controla os processos mais básicos relacionados com a manutenção e perpetuação da mitocôndria (fonte de energia) na célula.
Irônico ou não, o estudo desta região é certamente fascinante!

segunda-feira, agosto 08, 2005

ciência forense: um novo paradigma

A questão da ciência forense tem experimentado cada vez mais visibilidade e reconhecimento, tanto na mídia (seja no noticiário ou graças às inúmeras séries tipo CSI e afins) quanto nos tribunais (pela crescente inovação tecnológica - como a análise de DNA individual).

Uma revisão publicada recentemente na revista Science comenta sobre o uso da ciência forense na identificação individual, e mostra que a taxa de erro proveniente de testes forenses (63%) - que só perde para a taxa de erro associada ao testemunho ocular (71%) - e de testemunhos científicos (27%) são bastante elevadas. Estes números foram calculados pela análise dos fatores associados a condenações errôneas em casos que foram exonerados por testes de DNA. As porcentagens excedem 100% porque mais de um fator foi identificado em mais de um caso.

A análise de DNA (genotipagem) confere um novo - e melhor - modelo para identificação forense, principalmente porque as evidências podem ser tratadas com rigor estatístico e há precisão no cálculo da probabilidade de erro associado a um determinado "diagnóstico". A abordagem estatística baseada em teorias de genética de populações e testes empíricos é o maior diferencial da estratégia de identificação via DNA com relação à ciência forense tradicional. Até a análise de impressões digitais (normalmente venerada!) está sujeita a resultados errôneos: recentemente o FBI reconheceu que errou ao prender um cidadão em Oregon (EUA) como suspeito dos ataques terroristas em Madri com base na identificação de impressões digitais.

A ciência forense é uma força investigativa de primeira grandeza, mas sua dimensão será ainda maior quanto mais recurso for investido em pesquisa e qualificação de recursos humanos (incorporando aos quadros da polícia peritos titulados com sólida formação científica).

sexta-feira, agosto 05, 2005

Relação empresa-universidade: uma pergunta

Eu não tinha muita opinião sobre este assunto, uma vez que minha área de pesquisa não é (ou não era, até a chegada da bioinformática) exatamente associada ao desenvolvimento de novos produtos, softwares, tecnologias e afins. Mas em vista de um comentário recebido por email de um Engenheiro de Computação (que calha de ser meu cunhado e, dado este "parentesco" via "trajetória aleatória", achei por bem tentar expressar uma opinião - correndo o risco de ser um tanto quanto "primária" neste assunto), estou introduzindo a discussão no Blog.

Pergunta:
O que é mais estratégico: utilizar financiamento público (obtido via projetos de pesquisa) para treinar recursos humanos e desenvolver projetos de pesquisa em bioinformática ou contratar empresas de tecnologia e engenharia de software para o desenvolvimento de programas e/ou bancos de dados?

Dinâmica:
Quem tiver uma opinião a respeito está convidado a "postá-la" como comentário, assim cria-se uma espécie de "fórum", aberto à inclusão de outras questões (menos específicas do que esta) sobre essa relação universidade-empresa.

Alguém percebeu que eu não inclui a minha opinião? Estou tendendo a responder à pergunta com um sonoro: "depende", mas ainda estou compilando elementos e experiências (inclusive de terceiros, por que não?) para amadurecer minha opinião.

Mais sobre o "Editor's Report" da MBE

Sabia que o número de download/mês da MBE é de 100.000 artigos? A possibilidade de acesso on-line a artigos de revistas científicas - intermediado via sistema de consórcios institucionais - realmente promoveu a "inclusão digital" do terceiro mundo. Em 2004, 914 instituições em 57 países em desenvolvimento tiveram acesso gratuito à versão on-line da revista (via acordo entre as instituições e a Oxford University Press - OUP).

Após 12 meses da publicação, a versão eletrônica de artigos da MBE é disponibilizada gratuitamente, uma inovação adotada pela SMBE (Society for Molecular Biology and Evolution - responsável pela revista) no intuito de adaptar-se ao formato de publicação Open Access.

Molecular Biology & Evolution: state of art

Saiu hoje um artigo do periódico científico "Molecular Biology & Evolution" que trata da... Molecular Biology & Evolution!

Brincadeiras à parte, este artigo é um breve relatório técnico sobre o desempenho da revista nos últimos dois anos, principalmente. Fala da evolução do seu índice de impacto (6.4), do volume de artigos submetidos/ano (atualmente ~70% são rejeitados), do status da MBE frente a outras revistas da área (MPE, Genetics, Evolution, JME, JEB) e tem 2 tabelas MUITO interessantes sobre os artigos mais "downloadados" e os mais citados (destaque para os artigos que descrevem Neighbor-joining (de 1987) e uma revisão sobre Microsats do ano passado).

Vale a pena conferir! Nota 10!

nota: se houver dificuldade de acesso nos links indicados, por favor consultem a referência: Martin W. Mol. Biol. Evol. 22 (9): 1940-1942. 2005 (doi:10.1093/molbev/msi213)

bioinfo canadense

Para interessados em bioinformática:
O Canadá dispõe de um interessante "
helpdesk" em bioinformática. A dica foi do Dr. Felix Sperling (quem alguma vez trabalhou com o gene COI do DNAmt de insetos pode já ter ouvido falar dele). A parte mais interessante desta página são os "links" para Newsletter (Latest e Archives). Vale a pena conferir.

quarta-feira, agosto 03, 2005

10 minutos na SBG

Genômica mitocondrial e comparativa em Diptera: uma contribuição da mosca-dos-chifres, Haematobia irritans (Diptera: Muscidae) - este é o título de uma apresentação de 10 minutos que está programada para o dia 8 de setembro às 9:00 na sala 04 do Hotel Monte Real Resort em Águas de Lindóia durante o 51° Congresso Brasileiro de Genética (ver resumo do trabalho). Estão todos convidados! Alguns outros resumos selecionados para apresentação oral na área de genética, evolução e melhoramento animal podem ser encontrados aqui.

tempo & mode no blog

Algum atento visitante poderia se perguntar: "não seria um Blog um ambiente para a publicação (ou post, como importado do inglês) de opiniões e comentários pessoais de forma rotineira ou regular ou periódica? O que há com este blog via-gene, cuja regularidade deixa a desejar?"

Respondo: é verdade. Muito do interesse neste tipo de publicação oriunda justamente da sua atualização e seus conteúdos dinâmicos. Blogs irregulares estão fadados à extinção ou seriamente comprometidos. Neste caso, o quadro ainda é um pouco mais dramático, devido à natureza desta iniciativa ser a manutenção e a divulgação de um espaço voltado para assuntos científicos e acadêmicos - segundo a revista
The Scientist, existe uma enorme escassez de iniciativas por parte da comunidade científica e acadêmica em incorporar o formato Blog para divulgação de idéias e estímulo à comunicação.

Por quê? O tempo, ou melhor, a falta dele pode ser um fator importante nesta questão. E, talvez, a falta de apoio que iniciativas como estas experimentam no meio científico-acadêmico possa ser responsável por alguma outra parcela de culpa. Apesar de correr o risco de soar reducionista e pouco original, me arrisco a dizer que as urgências e prioridades da vida científica de muitos pesquisadores têm sido a publicação de artigos científicos - principalmente, o trabalho de "bancada" (atividades experimentais, propriamente ditas), a preparação de realtórios técnicos e projetos de pesquisa e a orientação de alunos, nesta ordem.

Lá no final da lista surge o momento de descontração, o choppinho (mas não necessariamente, pode ser suco-de-laranja) e o bate-papo com o pessoal do lab., num ambiente fértil para "pensar" genética e evolução sem o compromisso de estar sendo avaliado por uma banca de prêmios-Nobels, sem a pressão da crítica dos pares (ou pelo menos com "pares" momentaneamente inseridos no contexto "
bar-da-coxinhas"). Aí está um momento Blog!

Espero manter este Blog mais atualizado, nesta "re-engenharia" os "posts" devem sofrer uma redução, em favor de conteúdos mais constantes e mais dinâmicos.

vamos ver como fica...

o que você pode fazer pela Sociedade... Brasileira de Genética?

Esse é outro tema interessante para discussão. Eu não queria me prolongar desta vez, mas queria atentar para uma oportunidade de reflexão sobre nosso papel como pesquisadores em genética no Brasil.

Todo ano, na época da inscrição e submissão de resumos para o Congresso Nacional de Genética, surge para o aluno e/ou estagiário de um laboratório de genética a oportunidade de decidir participar ou não deste evento científico nacional (um grande evento, diga-se de passagem, em números de participantes e diversidade de temas abordados).

O valor da taxa de inscrição deixa clara a escolha: X para sócios, X+Y para não-sócios (sendo que Y pode realmente ser uma adição desanimadora). É aí onde mais concretamente se comprova o benefício de ser sócio da SBG. Mas ser sócio não requer apenas vontade e um cadastro, concretiza-se também no pagamento regular de anuidades. E logo vem a pergunta de alguns: que interesse tenho eu em ser sócia da SBG? O que eu ganho com isso?

Ao que parece, o desconto na taxa de inscrição e a possibilidade de receber os volumes da revista "Genetics and Molecular Biology" (benefícios diretos) parecem não ser suficientes a ponto de promover a congregação de novos sócios. O que resta então?

Fugindo do formato "o que a SBG pode fazer por mim" e optando pelo formato "o que eu posso fazer pela SBG" (desculpem-me pela alusão a um chavão Norte-Americano de conotação bélica, mas veio a calhar), tavlez encontremos algumas respostas para essas dúvidas.

Voltando ao aspecto "viva intensamente suas escolhas", acredito que o compromisso com a produção de conhecimento (financiado por agências nacionais e executado em universidades públicas - principalmente - num país onde gastar $$ com ciência é quase considerado luxo... infelizmente) envolve apoiar e participar das nossas sociedades científicas pela simples razão - ideológica - de acreditar que elas servem para alguma coisa além da organização dos congressos anuais (que também devem ser prestigiados por princípio, pelas mesmas razões comentadas em um "post" anterior sobre participação em seminários).

Sem querer promover um discurso militante, mas sem fugir também de valores que considero importantes, a organização em sociedades é a esperança de ter voz, num país em que o cientista tem que gritar para ter espaço. Acho quase uma questão de responsabilidade cívica prestigiar a SBG e contribuir para que ela corresponda cada vez mais às nossas expectativas de uma organização atuante e integrada com sua "base". Este tipo de reflexão também diz respeito ao cadastro no CRB (Conselho Regional de Biologia), mas isso fica para a próxima.

desculpem-me, acabei me prolongando...

o privilégio do "ciclo de seminários"

De modo geral, todos os bons laboratórios e centros de pesquisa cultivam o hábito saudável de promover e manter ciclos de seminários. Uma vez criado este espaço, um grupo de pesquisa conquista um ambiente privilegiado de interação.

A apresentação e discussão argumentativa (fundamentada) de resultados de projetos em andamento num fórum de público restrito - que compartilha interesses científicos comuns, mas experiências cotidianas e de formação diversificadas - promove um "caldo nutritivo" que alimenta a geração de novas idéias, promove um sinergismo entre as diferentes formas de observar um fenômeno e fomenta novos esforços de investigação científica.

Além disso, o seminário é a formalização do compromisso do pesquisador com a divulgação científica na sua forma mais ampla. Quem apresenta um seminário, compartilha, além de conteúdos específicos, alguns momentos preciosos, oportunidades de reflexão sobre a dimensão dos dados que se revelam timidamente diante da tela do computador ou da bancada do laboratório. O palestrante compartilha conosco também o seu sentimento de conquista sobre aspectos até então desconhecidos da natureza. Esta comunhão de inspiração criativa, reflexão, desafios e conquistas, tem reflexo no amadurecimento de idéias, de estratégias metodológicas e de pessoas também (daquelas que apresentam e das que assistem participativamente).

Enfim, manter a regularidade de um ciclo de seminários no laboratório/centro de pesquisa (semanalmente, por exemplo) exige de todos um esforço maior, para preparação do seminário (pelo escolhido da semana) e para participação comprometida (pelos demais), mas é um esforço pequeno comparado ao privilégio de ter esta oportunidade de crescimento intelectual e interação, e isso deve ser reconhecido e bem aproveitado. Quem porventura não estiver atento a esta "porta aberta", arrisca-se a passar pela aventura de fazer ciência sem vivê-la intensamente. Recomendação: seja intenso nas suas escolhas!

segunda-feira, maio 16, 2005

Por que comemorar o aceite da publicação?

Supõe-se que a publicação de artigos científicos devesse ser prática constante de um grupo de pesquisa. Logo, ser notificado do aceite de um manuscrito submetido para publicação deveria ser uma condição corriqueira, cotidiana quase, resultado lógico das atividades que desenvolvemos num laboratório de pesquisa, seja durante a iniciação científica ou na pós-graduação ou depois de titulados. Então, porque comemorar esta notícia? A experiência nos mostra que nem sempre as relações entre um projeto de pesquisa e a publicação/divulgação dos seus resultados são tão diretas. Desvios, retornos e contra-mãos são outros elementos comuns a este sistema, uma vez que a pesquisa nem sempre obedece a uma trajetória linear a partir dos objetivos propostos até a obtenção dos resultados finais. E, por isso mesmo, valer-se de um pouco de teimosia e criatividade contribui para que tais objetivos sejam alcançados. O que é comemorado neste caso é a persistência, a inovação, a descoberta de novas estratégias ou a resolução de problemas experimentais, a confiança e determinação do aprendiz. A premiação pela produção de conhecimento é concretizada ao compartilhar os resultados deste esforço com a sociedade (ou a comunidade científica, em uma escala mais próxima).
Bem, esta é uma visão romântica, idealizada, onde a ciência encanta, desafia e se reconhece no pesquisador. Mas existe uma versão menos poética e mais mundana, onde o cientista é mais humano: a publicação representa uma conquista profissional, um ponto na carreira, uma prova de trabalho bem-sucedido. Além disso, há uma intensa competição (às vezes mais leal, às vezes menos...), muitos artigos são rejeitados na mesa do editor do periódico científico (talvez a maioria até), outros são rejeitados nas mãos dos revisores/pareceristas (por inúmeras razões técnico-científicas e, em menor grau, por motivos menos nobres envolvendo conflitos de interesse), outros são aceitos sob a condição de severa reorganização e alguns poucos são aceitos com poucas ou nenhuma alteração. Mesmo quando aceito, um artigo pode ser classificado em diferentes categorias: há aqueles cotados para publicação urgente e há outros cuja publicação fica na prateleira, aguardando seu momento "menos urgente". Além disso, há o "gabarito" do periódico científico, valor que julga as revistas pelo seu índice de impacto e, desta forma, qualifica também o artigo científico e, indiretamente, o pesquisador.
Voltamos ao pesquisador, agente direto de produção de conhecimento, híbrido romântico/mundano sujeito aos mandos e desmandos da sua curiosidade e... das fontes de financiamento científico. A relação autor X artigo científico tem gerado algumas controvérsias no mundo acadêmico (local que abriga o cientista, principalmente no Brasil). Uma visão reducionista e limitada da real dimensão do pesquisador corre o risco de confundir a causa com a consequência, a ação com a reação, o cientista com o artigo (resisti a dizer: "o criador com a criatura", para não parecer muita pretensão...). Então, a avaliação do cientista se dá pela quantidade de artigos científicos que ele publicou. Qual o mérito deste tipo de avaliação? Esta é uma questão atual, polêmica, em aberto e que merece a nossa consideração. Pessoalmente não acredito que a relação seja direta, existem inúmeras outras variáveis mais significativas que ilustram a condição do pesquisador e seu mérito. Mas tabular a contribuição deste agente de produção de conhecimento de uma forma objetiva é um desafio e é condição sine qua non em sistemas acadêmicos de avaliação. De que forma isso pode ser feito? A resposta não é trivial...

sábado, março 19, 2005

há vagas...

nota rápida:
Há vagas para estagiário de iniciação científica e apoio técnico - com bolsa de estudos do CNPq - no laboratório de genética animal (CBMEG), Unicamp, para o desenvolvimento de atividades e projetos nas áreas de diversidade genômica, bioinformática e biologia molecular. Os interessados devem enviar currículo e histórico escolar para aclessinger@hotmail.com, informando qual o interesse específico. Recomenda-se conhecimentos básicos em alguma das seguintes áreas: biologia, matemática, programação, técnicas de laboratório de biomol, química e informática. Esta é uma boa oportunidade para participar da produção de conhecimento científico e explorar as fronteiras do conhecimento em genética e evolução.

domingo, fevereiro 20, 2005

cbmeg - unicamp


centro de biologia molecular e engenharia genética (CBMEG) - UNICAMP
Centro de excelência da UNICAMP que atua no desenvolvimento de pesquisas nos campos da genética animal, vegetal, humana e de microorganismos, além de projetos em genômica estrutural, funcional e comparativa. Aqui fica o laboratório de genética animal.

irrita...irritans

Nome científico: Haematobia irritans irritans

esta espécie é popularmente conhecida como a "mosca-dos-chifres", pertence à família Muscidae da ordem Diptera. Esta mosca é uma importante praga da pecuária, devido ao seu hábito hematófago ela causa grandes prejuízos na produção animal. Dois projetos referentes a este organismo estão sendo conduzidos atualmente no laboratório de genética animal da UNICAMP: 1) a análise da estrutura e evolução do genoma mitocondrial desta espécie e espécies próximas e 2) a análise da variabilidade genética desta espécie na América do Sul utilizando-se marcadores moleculares.

sábado, fevereiro 19, 2005

apresentação

"nothing in biology makes sense except in the light of evolution" - Theodosius G. Dobzhansky, 1973.
a frase acima foi publicada em 1973 no American Biology Teacher, 35: 125 - 129 e tem sido amplamente citada tornando-se um mantra da biologia evolutiva. A intenção original da frase é a oposição ao criacionismo científico. Dobzhansky defendia que religião e ciência são concepções diferentes. Veja abaixo outra citação de um dos maiores representante da Nova Síntese ou Neo-Darwinismo (movimento que unificou as leis de Mendel e a Teoria da Evolução de Darwin/Wallace).
"I am a creationist and an evolutionist. Evolution is God's, or Nature's method of creation. Creation is not an event that happened in 4004 BC; it is a process that began some 10 billion years ago and is still under way. Does the evolutionary doctrine clash with religious faith? It does not. It is a blunder to mistake the Holy Scriptures for elementary textbooks of astronomy, geology, biology, and anthropology. Only if symbols are construed to mean what they are not intended to mean can there arise imaginary, insoluble conflicts. ...the blunder leads to blasphemy: the Creator is accused of systematic deceitfulness." (Wikipeia, the free encyclopedia)

com esta introdução subscrevo minha apresentação: sou atualmente Pesquisadora Colaboradora Voluntária da UNICAMP. Desenvolvo projetos de pesquisa em genética, biologia molecular e evolução no Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG), no laboratório de Genética Animal.

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

barraco filogenético

Aproveito para repassar aqui um comentário que fiz há pouco tempo para o pessoal do laboratório, mas que acho que ilustra a saudável questão das discordâncias científicas (o que está comentado é um aspecto específico, mas pode-se generalizar que "barracos" como este - ou piores - acontecem em todos os campos da ciência):

"Tá o maior barraco: Nardi et al. publicaram na Science (2003) que os insetos não são monofiléticos... não ser monofilético causa horror a "sistemáticos" e outros bichos, e como consequência de preservar-se a questão monofilética, a solução é a re-estruturação de categorias taxonômicas, considerada por muitos outra heresia, pois muitas categorias taxonômicas foram calcadas em mármore, granito, titanium, etc, e serão mantidas até o túmulo por inúmeros taxonomistas.
Enfim, qual é o barraco: outros pesquisadores (Delsuc et al.) re-examinaram os dados originais de Nardi et al. e aplicaram outra metodologia de análise, para corrigir diversos artefatos relacionados à natureza das sequências nucleotídicas mitocondriais, e obtiveram uma árvore menos "escandalosa" onde os insetos (todos pais de família e bons seres-vivos) são bastante monofiléticos e não ficam 'parafiliando' (formando grupos parafiléticos) por aí com outros grupinhos menos esclarecidos... Claro que Nardi et al. respondem ao chamado e tacham os insetos de parafiléticos novamente e o vértice de todo esse pandemônio continuam sendo os collembolas (a abelha e o piolho são também vilões nessa história mas apenas coadjuvantes para deixar o thriller mais intrincado). E aí quem vira o vilão total: os dados moleculares! Eis que surje um Bitsch et al. e alerta: as moléculas ainda estão muito aquém de ganhar confiança para querer mudar o status de 'coisas taxonômicas' em artrópodes, eis a proposta morfológica!
Pessoal, desculpem o tom de brincadeira com que lido com questões de tão grande impacto (Science), envolvendo uma classe tão querida a nós do laboratório - por abrigar nossas varejeiras e muscas companheiras de trabalho (até surgir um moleculólogo desavisado e incluí-las sabe-se-lá onde...) - e a outros amadores e profissionais que incluem entomologistas entusiastas, sistematas por natureza e biólogos aventureiros. Os dados moleculares envolvem nossos também queridos genomas mitocondriais, portanto imagino que aqueles desenvolvendo projetos nesta áreas possam estar interessados. Para aqueles que tiverem curiosidade em acompanhar com detalhes esta discussão, posso passar a referência dos artigos que citei acima, OK? " Nota 10!

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

tsunami na Universidade

A onda agora é o contrato temporário para a função de professor substituto nas Universidades Federais. Inaugura-se com isso a condição de "café-com-leite" no quadro docente das IFES, muito conhecida da nossa infância, esta distinção era atribuída às crianças menores que insistiam (ou eram convidadas) em participar das mesmas brincadeiras, mas com regras mais "flexíveis", para compensar eventuais desvantagens decorrentes da diferença de idade. Quem não se contenta com a condição de "café-com-leite" fica a ver navios no mercado de trabalho que não tem favorecido a contratação de docentes doutores. Então o Brasil investe e inova em programas de formação de recursos humanos de pós-graduação (Profix e ProDoc - só para citar programas financiados pelas agências CNPq e CAPES) e economiza com a contratação de professores substitutos em que o grau mínimo de formação exigido é a graduação? Nada contra os professores substitutos em si, mas essa nova política de contratos tem 2 problemas: ou a desvalorização declarada ao profissional e seu potencial de trabalho (submetendo-o ao contrato temporário e baixos salários) ou o desmantelamento da estrutura de ensino da Universidade com a redução da qualificação do quadro docente. Nota 0!

museu virtual

Mais uma inovação do Museu de História Natural de Londres (NHM): em breve será possível analisar mais de 28 milhões de espécimens cujas imagens estarão acessíveis na internet. Esta tecnologia digital amplia as perspectivas de estudos em Taxonomia, tanto do ponto de vista de ciência aplicada - identificação de espécies exóticas ou invasoras, quanto do ponto de vista da ciência básica - associado a estudos de biodiversidade e conservação. Este comentário saiu na revista Nature desta semana. Nota:10!

intenção

Blog informal cujo conteúdo inclui discussões sobre evolução, genética e biologia molecular. Com comentários gerais e específicos a respeito de novidades e polêmicas que envolvem estas áreas do conhecimento. Informações técnicas e didáticas sobre processos, métodos e experimentações em genética, estudo de genomas e análises comparativas.