Supõe-se que a publicação de artigos científicos devesse ser prática constante de um grupo de pesquisa. Logo, ser notificado do aceite de um manuscrito submetido para publicação deveria ser uma condição corriqueira, cotidiana quase, resultado lógico das atividades que desenvolvemos num laboratório de pesquisa, seja durante a iniciação científica ou na pós-graduação ou depois de titulados. Então, porque comemorar esta notícia? A experiência nos mostra que nem sempre as relações entre um projeto de pesquisa e a publicação/divulgação dos seus resultados são tão diretas. Desvios, retornos e contra-mãos são outros elementos comuns a este sistema, uma vez que a pesquisa nem sempre obedece a uma trajetória linear a partir dos objetivos propostos até a obtenção dos resultados finais. E, por isso mesmo, valer-se de um pouco de teimosia e criatividade contribui para que tais objetivos sejam alcançados. O que é comemorado neste caso é a persistência, a inovação, a descoberta de novas estratégias ou a resolução de problemas experimentais, a confiança e determinação do aprendiz. A premiação pela produção de conhecimento é concretizada ao compartilhar os resultados deste esforço com a sociedade (ou a comunidade científica, em uma escala mais próxima).
Bem, esta é uma visão romântica, idealizada, onde a ciência encanta, desafia e se reconhece no pesquisador. Mas existe uma versão menos poética e mais mundana, onde o cientista é mais humano: a publicação representa uma conquista profissional, um ponto na carreira, uma prova de trabalho bem-sucedido. Além disso, há uma intensa competição (às vezes mais leal, às vezes menos...), muitos artigos são rejeitados na mesa do editor do periódico científico (talvez a maioria até), outros são rejeitados nas mãos dos revisores/pareceristas (por inúmeras razões técnico-científicas e, em menor grau, por motivos menos nobres envolvendo conflitos de interesse), outros são aceitos sob a condição de severa reorganização e alguns poucos são aceitos com poucas ou nenhuma alteração. Mesmo quando aceito, um artigo pode ser classificado em diferentes categorias: há aqueles cotados para publicação urgente e há outros cuja publicação fica na prateleira, aguardando seu momento "menos urgente". Além disso, há o "gabarito" do periódico científico, valor que julga as revistas pelo seu índice de impacto e, desta forma, qualifica também o artigo científico e, indiretamente, o pesquisador.
Voltamos ao pesquisador, agente direto de produção de conhecimento, híbrido romântico/mundano sujeito aos mandos e desmandos da sua curiosidade e... das fontes de financiamento científico. A relação autor X artigo científico tem gerado algumas controvérsias no mundo acadêmico (local que abriga o cientista, principalmente no Brasil). Uma visão reducionista e limitada da real dimensão do pesquisador corre o risco de confundir a causa com a consequência, a ação com a reação, o cientista com o artigo (resisti a dizer: "o criador com a criatura", para não parecer muita pretensão...). Então, a avaliação do cientista se dá pela quantidade de artigos científicos que ele publicou. Qual o mérito deste tipo de avaliação? Esta é uma questão atual, polêmica, em aberto e que merece a nossa consideração. Pessoalmente não acredito que a relação seja direta, existem inúmeras outras variáveis mais significativas que ilustram a condição do pesquisador e seu mérito. Mas tabular a contribuição deste agente de produção de conhecimento de uma forma objetiva é um desafio e é condição sine qua non em sistemas acadêmicos de avaliação. De que forma isso pode ser feito? A resposta não é trivial...