Aproveito este espaço para comentar e divulgar uma experiência recente em Bioinformática (como o próprio nome diz: biologia + informática, uma união promissora e fascinante que visa promover a análise de grande volume de informação biológica - normalmente sequências nucleotídicas - através do desenvolvimento de ferramentas computacionais específicas) do nosso laboratório: o banco de dados AMiGA. Esta simpática sigla significa Arthropodan Mitochondrial Genomes Accessible database, numa tradução livre seria algo como: banco de dados acessível para genomas mitocondriais de artrópodes (insetos, aranhas, crustáceos, etc). O artigo descrevendo este banco de dados está em vias de publicação no periódico científico Bioinformatics, uma revista onde ~80% dos manuscritos submetidos são rejeitados conforme rígidos critérios editoriais (informou o editorial de 15 de dezembro 2005). O genoma mitocondrial animal (sim, mitocondria tem um genoma próprio), é uma pequena molécula de DNA dupla-fita circular (16.000 pares de bases), conservada em conteúdo gênico (normalmente 37 genes: 13 genes codificadores de proteinas, 22 RNAs transportadores e 2 RNAs ribossomais), sem introns ou extensas regiões intergênicas (não-codificadoras) e abundantemente utilizada em análises comparativas e estudos evolutivos. O DNA mitocondrial (ou DNAmt) é um dos mais populares marcadores moleculares empregados em estudos evolutivos para uma ampla diversidade de grupos animais, especialmente informativa é a sequência do gene codificador da subunidade I da Citocromo Oxidase c (iniciativas de pesquisa recentes - e em andamento - adotaram ~600pb deste gene como "marcador universal" para inventariar a biodiversidade global, uma iniciativa ambiciosa que se baseia na técnica conhecida como "DNA barcodes"). Mesmo não tendo o apelo conquistado pela área de Genômica "tradicional" (se é que se pode cunhar de "tradicional" uma área de pesquisa ainda recente, especialmente no Brasil), a Genômica Mitocondrial e Comparativa vem obtendo cada vez maior reconhecimento e produzindo importantes contribuições ao conhecimento científico com relação à evolução deste sistema genômico (acredita-se que a mitocondria tenha se originado de uma associação simbiótica entre um organismo eucarioto ancestral e uma bactéria primitiva) e a sua utilidade como marcador filogenético para entender a evolução e as relações entre as diferentes espécies. A bioinformática tem sido extremamente generosa para a investigação biológica, otimizando a análise simultânea de grandes quantidades de dados e trazendo uma nova dimensão de possibilidades para resolver as sempre intrigantes questões das Ciências Biológicas. Desculpem-me pela possível auto-promoção (será?), mas foi uma desculpa para divulgar um pouco mais o mundo do DNA mitocondrial e começar a alimentar este blog que andava meio parado... é isso.
ana claudia