Pensei em publicar no
via gene a íntegra da entrevista concedida em Julho/06 para a revista
Com Ciência Ambiental e assim estender um pouco mais este tema sobre "blogs" científicos. Pensei em divulgar o texto completo depois de refletir sobre o
comentário do Luis Brudna (
Gluón Blog) no "post" anterior: "
Luis Brudna said... Tenho que melhorar minha divulgacao. Quase nunca sou citado. Se bem que meu blog tah cada vez mais balaio de gato. Tenho me desviado um pouco da ciencia. :-)".
Apesar de gostar de ver o
via gene citado na "mídia" e em um veículo que agrega reportagens de qualidade, a nota publicada foi bastante
econômica com relação ao universo de "blogs" científicos brasileiros (em expansão) e fiquei tentada a rever minhas respostas às questões da entrevista: como será que eu contribui para esta visão reduzida sobre a diversidade de blogs científicos?
Com algum alívio vi que indiquei os "links" do Ciência em Dia* como referência. Pensando bem, não sei porque não incluí os "links" do próprio
via... mas talvez a Rita Nardy (responsável pela entrevista) possa um dia nos esclarecer porque optou por uma lista tão restrita (será que ela acessa o
via? ).
Aproveito para agradecer publicamente à
Editora Casa Latina pelo envio de um exemplar da revista!
ENTREVISTA:
Rita Nardy: Andei pesquisando os Blogs nacionais, e achei muitos bons blogs escritos por jornalistas (como o do Marcelo Leite e Salvador Nogueira) e poucos feitos por cientistas (destaque para o seu e o do Prof. Adilson, São Carlos). A Sra tem essa mesma percepção? Resposta: existem poucos Blogs Científicos de modo geral, independentemente do “autor” do blog ter formação formal jornalística ou científica. Para citar um exemplo, só no jornal Folha de São Paulo existem ao menos 2 blogs sobre futebol, 1 sobre cultura e 1 sobre política, mas nenhum sobre ciência**, apesar dos jornalistas Marcelo Leite e Salvador Nogueira – que você citou – serem colaboradores freqüentes deste veículo de comunicação. A minha percepção é que está havendo um aumento – discreto – de excelentes blogs científicos mantidos por cientistas/pesquisadores, principalmente associado ao interesse em promover divulgação científica de qualidade com novas ferramentas e em novos formatos (no caso o blog) e o debate de temas importantes envolvendo políticas científicas, produção de conhecimento, estratégias de pesquisa e fomento, questões acadêmicas, entre outros tópicos de interesse científico que nem sempre geram interesse jornalístico imediato, mas que estão presentes no dia-a-dia do cientista. Ultimamente tenho consultado mais blogs de cientistas do que de jornalistas (algo em torno de 6:1), mas ainda considero que o blog do jornalista Marcelo Leite é uma referência de blog científico brasileiro e contribuiu, direta ou indiretamente, como estímulo para a criação de outros blogs científicos (de cientistas). Por outro lado, é importante trazer para a discussão que o esforço de divulgação científica, principalmente associado ao formato “blog”, dificilmente reverte em reconhecimento acadêmico ou da comunidade científica, podendo desestimular o ingresso de pesquisadores nesta área, acredito que o mesmo não ocorre com o jornalista.
Rita Nardy: A sra. conhece alguma pesquisa feita sobre o tema ou cadastro de blogs de ciência no Brasil?
Resposta: existe uma discussão em andamento no sentido de buscar formas de identificar e integrar os blogs científicos brasileiros, na intenção de formar uma rede de blogs científicos com conteúdos integrados e acessíveis a partir de uma plataforma operacional comum. Mas esta é uma iniciativa ainda embrionária que está sendo discutida por alguns blogs científicos. Pesquisa propriamente dita (atrelada a financiamento específico) ou cadastro formal de blogs de ciência no Brasil eu não conheço, mas um cadastro informal de blogs científicos pode ser encontrado nos “links” listados no blog do Marcelo Leite, do Osame Kinouchi & col.*** e outros.
Rita Nardy: O seu blog tem bastante consistência e informação, o que a motivou a criar o blog?
Resposta: Obrigada pela opinião sobre o via gene. O que motivou a criação do blog foi a facilidade operacional deste recurso e a possibilidade de divulgar alguns conteúdos (informações, discussões temáticas, opiniões, etc.) antes restritos à esfera dos pesquisadores e alunos do laboratório de genética animal (via lista ou grupo eletrônico) para um “público” mais amplo interessado nestas mesmas questões acadêmicas e científicas. Além da divulgação, o blog promove maior interação através da janela de comentários, onde o “visitante” pode manifestar sua opinião, tornando-se um ambiente democrático e de conteúdos dinâmicos. Eu já tinha por hábito enviar comentários, opiniões, sugestões e reflexões sobre tópicos em ciência para a equipe do meu laboratório de pesquisa, via e-mail, então adaptar estes conteúdos e este hábito ao formato-blog só precisou quebrar a resistência do cientista à exposição em um novo ambiente, a internet.
Rita Nardy: Como percebe a resposta dos internautas aos temas que discute no seu Blog? (se possível citar alguns exemplos)
Resposta: temas mais amplos geram mais resposta (comentários) dos visitantes do blog. Nem sempre os temas que escrevo com maior entusiasmo e informação são os que geram maior número de comentários... engraçado, não? Alguns temas aparecem de forma recorrente em diferentes blogs científicos e normalmente são os que dão mais “ibope”, pois muitos dos internautas que comentam no via gene também possuem blogs científicos ou são presença constante no painél de comentários destes blogs. Vários blogs comentaram, por exemplo, sobre uma notícia da revista científica Nature listando os 5 blogs científicos mais populares, gerando uma ampla discussão entre blogueiros e internautas que rendeu painéis de comentários mais ativos. Até a cabeçada do Zidane no final da copa do mundo foi comentada desta forma disseminada e rendeu numerosos comentários, apesar do contexto científico ficar um pouco deslocado, neste caso.
Rita Nardy: A comunidade científica utiliza os blogs como fonte de informação?
Resposta: não acredito... depende do que se entende por “fonte de informação”. Sim, existem cientistas que consultam blogs como também consultam o site de notícias da FAPESP, o Jornal da Ciência da SBPC, a Folha Ciência do jornal FSP e outros sites, para ter um “apanhado geral” das notícias científicas em pauta e uma atualização sobre o andamento de pesquisas em outras áreas. Entretanto, segundo o registro de visitas do via gene, a maioria dos visitantes chega ao blog através de consultas em buscadores como o Google, a partir de uma ampla diversidade de palavras-chave e entram em páginas do blog por acaso. Com base nisso, avalio que a maioria dos visitantes do blog é esporádica e de não-cientistas (visitas recorrentes são uma minoria, mas normalmente de cientistas e especialistas/entusiastas em ciências).
Rita Nardy: Nessa "massa" confusa de informação que se transformou a internet, os blogs vem para facilitar o acesso a informação? Por quê?
Resposta: no caso dos blogs científicos normalmente há uma “temática” que orienta os conteúdos apresentados e pode facilitar o acesso a determinado tipo de informação: o via gene normalmente dispõe sobre assuntos ligados à genética, evolução, bioinformática, políticas científicas, aspectos diversos da blogosfera científica, questões acadêmicas ligadas à pós-graduação e formação de recursos humanos para pesquisa científica, entre outros. Neste sentido, o blog promove a discussão e o acesso a informações dentro destas temáticas, principalmente. Mas há iniciativas que visam a discussão de temas de ciência e cidadania, além de assuntos de interesse amplo, incluindo geopolítica, comportamento humano e futebol, até. Essa é uma possibilidade do formato-blog, a liberdade de organização de conteúdos segundo a inspiração do autor.
Rita Nardy: Como o interneuta deve proceder para avaliar as informações constantes em um blog? (Exmplo no caso de ciências seria checar as informações do cientista em questão no currículo lattes, CNPq.)
Resposta: é preciso ter alguma cautela, o blog não é necessariamente – nem pretende ser – uma fonte formal de informação científica, para isto existem publicações e veículos especializados. O blog é um ambiente mais descontraído onde o autor pode especular de forma mais livre dos rigores da publicação científica sobre um determinado tema. Sendo assim, a questão de “avaliar as informações constantes em um blog” não faz muito sentido… publica-se opiniões, especulações, críticas, e manifestações de qualquer outra natureza, conforme critérios próprios do autor do blog. Se o autor for um cientista, provavelmente estará vinculado a alguma instituição de pesquisa, terá o currículo disponível on-line (Lattes/CNPq) e suas “credenciais” poderão ser “checadas”, mas as “credenciais” que importam para um bom blog científico não são necessariamente as mesmas. Na minha opinião, a leitura de alguns dos comentários publicados em um blog é suficiente para se ter uma idéia inicial da sua qualidade como divulgador de idéias científicas.
FIM DA ENTREVISTA
* o Marcelo Leite apresentava uma listagem ampla incluindo diversos blogs e sites, inclusive o Glúon :)
** depois desta data (Julho/06), o jornal
Folha de São Paulo incorporou novos "blogs" (pelo menos 5, mas nenhum científico, vale ressaltar).
*** este "blog", ao que tudo indica, foi desativado.
Observação: os asteriscos foram acrescentados posteriormente à entrevista, para incluir notas de atualização.