No pé do ranking, aluno brasileiro acha que sabe mais ciência do que finlandeses
Blog informal sobre conteúdos de genética e evolução. Com comentários gerais e específicos a respeito de novidades e polêmicas em ciência.
quinta-feira, dezembro 06, 2007
e nem nos damos conta...
No pé do ranking, aluno brasileiro acha que sabe mais ciência do que finlandeses
a ciência foi pro espaço... no mau-sentido
"Pisa: Em ciência, 61% estão no pior nível
27,9% dos alunos não chegam nem ao grau mais baixo de compreensão
segunda-feira, novembro 19, 2007
meu querido diário... genético?
quinta-feira, novembro 08, 2007
23 pares e mais um pouco...
quarta-feira, outubro 31, 2007
Prêmio Nobel-Abacaxi
"Não há nenhuma razão sólida para antecipar que as capacidades "intelectuais de pessoas geograficamente separadas em sua evolução provem ter evoluído de forma idêntica", escreveu. "Nosso desejo de reservar poderes iguais de raciocínio como alguma herança universal da humanidade não será suficiente para fazer com que assim seja.""
"James Watson, o co-descobridor da molécula de DNA e ganhador do Nobel de 1953, pisou na bola. Em Londres para a divulgação de seu novo livro "Avoid Boring People" (evite pessoas chatas ou evite chatear as pessoas), ele deu declarações escandalosamente racistas. Acho que nem o Borat ou qualquer outro comediante querendo troçar do politicamente correto teria ido tão longe.
Em entrevista ao jornal britânico "The Sunday Times", o laureado disse na semana passada que africanos são menos inteligentes do que ocidentais e que, por isso, era pessimista em relação ao futuro da África. "Todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência deles [dos negros] é igual à nossa, apesar de todos os testes dizerem que não", afirmou.
Até aqui, com muito boa vontade para com Watson, poderíamos argumentar que o venerando pesquisador procura apenas exercer sua liberdade acadêmica, afinal, se há mesmo evidências a mostrar que negros são menos inteligentes, ele poderia ter um ponto. Mas já na frase seguinte ele mostrou que seu raciocínio não era exatamente científico: "Pessoas que já lidaram com empregados negros não acreditam que isso [a igualdade de inteligência] seja verdade".
Watson cometeu aqui pelo menos dois grandes pecados epistemológicos --deixemos por ora a questão moral de lado. Falou em "todos os testes" sem dizer quais e fez uma generalização apressada. Eu já lidei com patrões e empregados brancos, negros, amarelos e pardos, com pessoas burras e inteligentes, e posso asseverar que todas as combinações são possíveis.
Como era previsível, a reação às declarações de Watson foram efusivas. Ele foi desconvidado para vários eventos e houve até quem procurasse nos estatutos da Fundação Nobel uma brecha legal para cassar-lhe o prêmio. O experiente cientista, agora com 79 anos, acabou escrevendo um artigo em que pediu desculpas a quem tenha ofendido.
Não há dúvida de que Watson, reincidente em matéria de opiniões preconceituosas, merecia censuras. Receio, porém, que alguns de seus críticos tenham recaído nos mesmos erros que ele, isto é, afirmar coisas que não podem provar e proceder a generalizações problemáticas.
Os testes a que o laureado se referiu são provavelmente as tabelas de Richard Herrnstein e Charles Murray publicadas em "The Bell Curve" (a curva do sino ou a curva normal), de 1994, um dos livros mais explosivos da década passada. A obra pretendia sustentar que a inteligência medida por testes de QI é um fator preditivo de indicadores sociais como salário, gravidez precoce e problemas com a Justiça melhor do que o nível socioeconômico da família. O texto também afirma que negros dos EUA têm em média um QI mais baixo do que o de outros grupos sociais como brancos, judeus, asiáticos.
Sobretudo na imprensa, circulou a versão de que os autores diziam que a inteligência é dada pelos genes, mas Herrnstein e Murray não foram tão longe em seu determinismo. Eles afirmaram que permanece em aberto o debate sobre se e quanto genes e ambiente influem nas diferenças de QI entre os grupos étnicos --o que representa mais ou menos o consenso científico sobre a matéria.
"The Bell Curve" foi competentemente criticado por grande parte do establishment acadêmico norte-americano. De um lado, vieram as objeções conceituais, encabeçadas por cientistas como Stephen Jay Gould, que contestaram a idéia de que a inteligência possa ser reduzida a um teste de QI. Fazê-lo implicaria aceitar uma série de pressupostos de engolir, como o de que uma noção tão complexa possa ser traduzida num único número e que ela permaneça invariável ao longo de toda a vida do indivíduo. Aqui, estudar não serviria para nada além de acumular informações, coisa que computadores fazem melhor do que seres humanos.
Um pouco mais tarde, uma segunda leva de trabalhos, iniciada por Michael Hout e colegas da Universidade de Berkley, mostrou que os próprios dados de Herrnstein e Murray apresentavam problemas metodológicos, que exageravam a importância dos testes de QI como fator preditivo e diminuíam a do background familiar.
O debate é apaixonante, mas eu receio que, da forma como foi travado, ele esconda o ponto central, que é o de mostrar por que o racismo é errado. E essa é muito mais uma questão moral do que científica.
A evidência empírica não favorece o argumento da igualdade entre os homens, pela simples razão de que eles não são iguais. E opor-se ao racismo não pode depender de uma ficção filosófica que começou a ser escrita por John Locke no século 17, ao criar o conceito de "tábula rasa", segundo o qual os homens nascem como uma folha em branco, e que todo o conhecimento que adquirem, bem como as diferenças que acabam por desenvolver, é fruto das condições externas a que são submetidos. Um rápido passeio pelos rudimentos da neurologia mostra que já nascemos, senão prontos, pelo menos com uma série de estruturas mentais pré-definidas. E elas têm muito em comum, mas em certos pontos variam significativamente de pessoa para pessoa. Embora Locke seja um dos pais espirituais do liberalismo, a "tábula rasa" fez carreira entre pensadores de esquerda do século 20. Por alguma razão obscura, em vez de defender que todos devem ter os mesmos direitos (o que já estaria de bom tamanho), resolveram que a igualdade deveria ser um dado da natureza, mesmo que isso contrariasse o senso comum e as observações diretas.
É engraçado como estamos dispostos a aceitar diferenças entre pessoas (fulano é mais inteligente do que ciclano), mas não entre grupos étnicos. Em relação a alguns assuntos, comportamo-nos como se filhos não se parecessem com seus pais, como se não houvesse algo chamado hereditariedade, que em algum grau é dada pelos genes, e contribui para a expressão das mais variadas características de uma pessoa.
Não fazemos objeção a um juízo do tipo: negros são em média mais altos do que japoneses, mas basta alguém sugerir que os asiáticos tenham uma inteligência média (definida por testes de QI) superior à do grupo de ascendência africana para desencadear uma revolução. O mesmo vale para as aptidões femininas para a matemática ou a predisposição masculina para a infidelidade conjugal.
Médias são um conceito traiçoeiro. Representam um valor obtido a partir resultados válidos para vários indivíduos, mas que não podem ser extrapolados a nenhum indivíduo em particular. Na média, a humanidade tem um testículos e um seio. Nossa experiência ensina que é perfeitamente possível encontrar um indivíduo negro mais inteligente (por teste de QI ou qualquer outro critério) do que um branco anglo-saxônico, judeu, coreano ou o que for. Se de fato há uma predisposição de origem genética para a inteligência, como parece que há, ela não chega, exceto em casos patológicos, constituir uma barreira intransponível ao sucesso intelectual de ninguém. A vantagem de uma pessoa mais favorecida pelos genes pode ser facilmente revertida por outras características como a disciplina no estudo, para citar um único exemplo.
O argumento contra o racismo, o sexismo e outras chagas que desde sempre atormentam a humanidade deve ser moral. De outra forma, se um dia inventarem um teste confiável para medir a inteligência e ele mostrar discrepâncias entre grupos, o que acontece? O racismo estará legitimado?
Por maiores que sejam as diferenças entre indivíduos e grupos de indivíduos, quer elas tenham origem nos genes ou no ambiente (ou numa interação entre eles, como parece mais provável), o fato é que é em princípio errado prejulgar alguém por características (reais ou supostas) que não observamos nessa pessoa, mas no grupo ao qual consideramos que ela pertence.
Podemos ir um pouco mais longe e afirmar que o homem tem uma estrutura psíquica que favorece atitudes etnocêntricas e mesmo racistas. Pensamos, afinal, através de operações mentais de categorização e generalização. Se um membro da tribo vizinha uma vez me atacou, é evolucionariamente útil que eu parta do pressuposto de que todos aqueles que pertencem àquela tribo inimiga tentarão me agredir e antecipe o ataque. Só que esse tipo de raciocínio, que fazia sentido no passado darwiniano, perdeu inteiramente a razão de ser em sociedades modernas. Se ele já foi útil para manter-nos vivos, hoje, a exemplo da capacidade de armazenar energia na forma de tecido adiposo, é apenas um estorvo. Serve para separar e fomentar violência. As forças da civilização exigem que abandonemos essa forma primitiva de pensar e utilizemos a razão e não reações instintivas no trato com outros seres humanos. É isso que Watson, mesmo com toda sua genialidade científica, não foi capaz de fazer. "
Hélio Schwartsman, 42, é editorialista da Folha. Bacharel em filosofia. Escreve para a Folha Online às quintas.
segunda-feira, setembro 24, 2007
Sobre jornalistas e geneticistas na Nature Reviews Genetics
"Grounds for hope arise from the willingness of many journalists to improve their ability to communicate about genetics in an effective fashion. Should geneticists themselves do any less?"
Nota de uma geneticista: concordo que temos que fazer a nossa parte no que diz respeito à divulgação científica "além da academia". Mas é importante notar que a sociedade espera que o geneticista comunique/divulgue ciência primordialmente através da publicação de artigos científicos (ao menos essa atividade é rotineiramente avaliada e exigida de um pesquisador). Deste ponto de vista, o geneticista tem que investir energia em 2 tarefas: comunicação para público especializado e comunicação para o público leigo. Provocação: quem tem que se esforçar mais? Na minha opinião, ainda é o jornalista, já que esta é sua atividade primordial, ou não é?
quinta-feira, setembro 06, 2007
via gene KIDS
domingo, agosto 19, 2007
quem é a vítima?
[ANGELA PINHO da Folha de S.Paulo, em Brasília]
Desde 2002, o governo federal pediu a devolução de cerca de R$ 54 milhões que ex-bolsistas de doutorado favorecidos por ajuda oficial teriam recebido de forma irregular.
O levantamento da CGU (Controladoria Geral da União) envolve a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) --principais fomentadores do benefício.
Os motivos dos processos variam de irregularidades como o abandono dos estudos até a falsificação de documentos. A maioria dos casos, porém, é de ex-bolsistas que fizeram doutorado no exterior e não cumpriram a norma de ficar no Brasil por igual período.
Os "doutores que se formam no exterior" foram alvo de crítica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele disse haver "contra-senso" entre os que criticam o Bolsa Família e não a "bolsa de US$ 2.000 para um doutor se formar no exterior".
O número de cobranças é pequeno em relação ao de bolsas concedidas. Só o CNPq ofereceu 249.632 entre 2002 e 2006, em um total de R$ 2,6 bilhões. Mas o valor pode ser alto para uma só pessoa, e quem não paga ainda tem o nome enviado ao Cadin -banco de dados de devedores do governo.
É o caso de Cristina Campolina, coordenadora do curso de história da Universidade Federal de Minas Gerais. O TCU a condenou a devolver R$ 655 mil de sua bolsa de doutorado para a Universidade de Illinois (EUA) entre agosto de 1986 e fevereiro de 1991.
Em sua defesa, ela disse que vive em "extrema penúria financeira", mas não adiantou. O tribunal determinou que ela quite a dívida e lhe aplicou uma multa de R$ 22 mil. Campolina afirma que não terminou a tese porque seu orientador dizia que só aceitaria o trabalho se ele tivesse documentos inéditos, os quais ela nunca achou.
Diante da impossibilidade de quitar a sua dívida, ela diz que tentará revalidar os créditos do doutorado no Brasil e defender a tese na UFMG. Porém, como não cumpriu o prazo para a devolução do dinheiro --acrescido de juros pela demora no pagamento--, deve ser acionada pela Advocacia Geral da União.
É o mesmo caso do físico Ricardo de Paula e Silva Masetti Lobo. Em 2004, ele foi condenado pelo TCU a devolver R$ 184 mil. Lobo fez doutorado na França entre 1992 e 1996. Após apresentar sua tese, passou um período nos Estados Unidos e foi para Paris, onde vive hoje.
Embora afirme que há "excelentes" órgãos de pesquisa no Brasil, ele diz que desistiu de voltar porque, na época, não havia laboratórios em sua área de pesquisa no país -uma propriedade específica de "luz síncrotron", no campo da física de partículas. O TCU, porém, rejeitou seu argumento.
"Se a obrigação [voltar ao Brasil] não foi cumprida (...) significa que recursos pertencentes à sociedade brasileira, sabidamente escassos, foram empregados em proveito pessoal do bolsista e, até mesmo, em proveito do país que passou a abrigá-lo", disse na decisão o relator, Augusto Cavalcanti.
Lobo lamenta que a questão tenha chegado ao tribunal. "A discussão deixou de ser científica e virou administrativa." A Capes e o CNPq, porém, argumentam que a caso só vai ao TCU depois do fracasso de uma "negociação amigável".
O presidente da Capes, Jorge Guimarães, cita como medidas para tentar impedir que pesquisadores não voltem ao Brasil acordos com embaixadas para não renovar o visto de bolsistas e até uma análise mais criteriosa antes de conceder bolsas em áreas que o risco do não-retorno é maior, como economia.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, fala também no programa de pós-doutorado criado pela pasta e na contratação de 10 mil professores para universidades federais desde 2003 como incentivos à permanência dos doutores no Brasil.
Para quem já tem as dívidas, contudo, o entendimento agora é com o tribunal."
terça-feira, agosto 07, 2007
contribuição asiática
quinta-feira, julho 19, 2007
um único berço: a África
Segue reportagem na íntegra:
"Estudando variações genéticas globais e medidas cranianas de diferentes regiões do mundo, pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e da Escola Médica Saga, no Japão, demonstraram que o Homo sapiens teve origem única: na África.Os resultados da pesquisa, publicados na edição desta quinta-feira (19/7) da revista Nature, podem encerrar uma longa polêmica entre as teorias evolutivas antagônicas que tentam explicar a origem do homem moderno.
A teoria, conhecida como out of Africa (“saída da África”), defende que todos os habitantes do planeta descendem de um único grupo de Homo sapiens que teria deixado o continente africano há cerca de 2 mil gerações.
Por outro lado, a teoria multirregional, refutada pelo novo estudo, defende que diferentes populações de Homo sapiens teriam evoluído independentemente, em diversas regiões, a partir do Homo erectus, que deixou a África há 2 milhões de anos.Os autores do artigo agora publicado afirmam que os resultados do estudo representam o golpe de misericórdia na teoria multirregional. Os pesquisadores estudaram a diversidade genética de populações humanas e mediram cerca de 4,6 mil crânios de coleções acadêmicas ao redor do mundo. A pesquisa mostrou que, à medida em que as populações se afastaram da África, houve uma perda da diversidade genética e das variações em atributos físicos.
“Alguns cientistas haviam usado dados de medidas cranianas para argumentar que os humanos modernos se originaram em locais múltiplos do mundo. Nós combinamos dados genéticos com novas medidas de uma amostra mais ampla para mostrar definitivamente que os humanos modernos são originários de uma única área da África subsaariana”, disse Manica.
Segundo os pesquisadores, a redução da diversidade genética conforme as populações se afastavam da África foi resultado de “gargalos” ou de eventos que temporariamente reduziram as populações durante a migração.
Para garantir a validade da evidência de origem única, os cientistas usaram seus dados de modo a buscar origens não-africanas em humanos modernos. “Tentamos encontrar uma origem adicional não-africana, mas isso simplesmente não foi possível. Nossos achados confirmaram que os humanos vieram mesmo de uma única área da África subsaariana”, destacou Manica.
O artigo The effect of ancient population bottlenecks on human phenotypic variation, de Andrea Manica e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em
www.nature.com. "quinta-feira, junho 21, 2007
crise nas universidades...
*particularmente nunca vi nada errado em haver festas na universidade, mas sou de um tempo quase pré-histórico quando as festas eram eventos quase "artesanais", em horário de "matinê" e promoviam a integração cultural inclusive (como as famosas BIOART dos anos 90) e não super-produções da madrugada.
O blog Roda de Ciência está promovendo um debate sobre o tema este mês. Por favor inculam eventuais comentários aqui.
quarta-feira, abril 04, 2007
Orkut na Academia
04/04/2007 Agência FAPESP
O Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo, em São Carlos (SP), promove, no dia 5 de abril, às 11 horas, a palestra Quem você conhece: a revolução da social network.
O evento, que é aberto ao público, será apresentado por Orkut Buyukkokten, engenheiro de software e gerente de produtos do Google, que falará sobre o desenvolvimento do site de relacionamentos Orkut, com enfoque nos aspectos sociais e técnicos para manter um sistema que superou os 40 milhões de usuários no mundo.
Mais informações: eventos@icmc.usp.br
quinta-feira, março 22, 2007
Blog do Marcelo
Eis a saudação do viagene comentada no blog do Marcelo Knobel:
Parabéns pela iniciativa de submeter seu currículo à seleção e, obviamente, por ter sido selecionado. Boa sorte nesta viagem-aventura-científica e que sobre tempo para atualizar o blog (ferramenta extremamente "feliz" para uma oportunidade como esta). Vou fazer um "link" no Via Gene para esta nota da Unicamp e para o seu blog, OK? Espero que além de divulgar suas andanças pelo "caminho de Santiago" científico dos EUA, seu blog também tenha um papel importante como modelo de estratégia de divulgação científica e contribua para promover a validade esta atividade para nossa comunidade científica (a Unicamp já inova neste sentido, mas pré-conceitos ainda persistem). Quem sabe você consegue "emplacar" um blog científico no quadro de blogs da Folha de SP? Futebol, F1, gastronomia, política, etc. já estão contemplados há tempos... será a ciência desinteressante de ser "bloggada" ou serão os cientistas que resistem ao formato e à exposição nestas "condições" :). Enfim, sucesso!
A notícia veiculada pelo site da Unicamp pode ser lida aqui.quinta-feira, fevereiro 01, 2007
língua-mãe ou madrasta?
terça-feira, janeiro 30, 2007
ciência e a arte de falar simples: uma tentativa
Texto inspirado no tema de janeiro para o blog Roda de Ciência: a arte de falar simples
- E o que tem isso a ver com o tema “a arte de falar simples”?
A conexão se fez quando fui convidada para dar uma palestra sobre quem é o biólogo para um grupo escoteiro há quase 10 anos atrás. Senti-me tentada a aceitar o convite pelas razões “históricas” reveladas acima. Devo esclarecer que há no escotismo uma diferenciação de “patentes”, a partir dos ternos “lobinhos” até o “chefe-escoteiro”, e cabe ao escoteiro cumprir determinadas tarefas para receber um grau “superior”. Uma destas tarefas era “entrevistar um biólogo”, e para inovar, o escoteiro desta história, optou por apresentar um biólogo em “carne e osso” (no caso, eu) para a turma. E aí surgiu a oportunidade e a necessidade de adaptar o discurso acadêmico ao formato do “falar simples” para divulgar a ciência feita pelo biólogo. Será que o escoteiro poderia imaginar que a conversa seria sobre a vida e a arte das moscas varejeiras?!
O que parecia uma tarefa simples se transformava num desafio cada vez maior à medida que crescia minha consciência do abismo que pode haver entre estas duas linguagens de divulgação, a acadêmica e a informal. Por isso mesmo é preciso um artista para mediar esta transformação do conteúdo, e nem todos somos Charles Chaplins capazes de traduzir a complexidade da vida humana e suas relações através de obras primas que se revelam para todas as idades e “escolaridades”, numa linguagem “universal”.
Munida de um puçá*, um pôster, uma gaiola de moscas e mais algumas surpresas (como larvas e pupas), fui ao encontro deste desafio. Foi um começo meio desafinado, que foi se transformando conforme via os rostos das crianças e adolescentes respondendo ao mundo novo – do biólogo – que ia sendo apresentado ali. A curiosidade é realmente uma aliada inestimável para o divulgador de ciências e, escoteiros, além de sempre alertas, são criaturas extremamente curiosas (até por serem crianças!). Claro que uma gaiola cheia de moscas verdes e um “tupperware” com carniça e larvas esfomeadas foram elementos importantes para despertar essa curiosidade, seja pelo interesse no sistema biológico em si ou pela perspectiva “meio nojenta” – para quê serve isso?
*Visto que o tema é “falar simples”, fica o esclarecimento: puçá: ferramenta formada por uma vara e uma redinha de filó presa ao redor de um aro que serve para capturar pequenos insetos (classicamente associado à captura de borboletas, mas também serve para pegar moscas! ver foto do "post"); larvas: “filhotes” de moscas (fase do ciclo de vida da mosca, popular “verme”); pupa: casulo (fase do ciclo de vida em que ocorre a metamorfose, transformando a larva em mosca adulta). Tupperware: potinhos de plástico com tampa que revolucionaram os anos 80!
Foi uma experiência inesquecível! Mostrar o ciclo biológico de um organismo, falar de classificação taxonômica, comentar o que são relações filogenéticas (não vale dizer que mosca varejeira “é prima” da mosca doméstica), que mosca tem DNA (inclusive na mitocôndria – mitoquê?), que DNA é uma estrutura dinâmica que conta histórias, histórias evolutivas reveladas por marcas que são passadas por gerações... isso tudo tão fascinante!
E como funciona isso? Interrompe uma pequena apontando para o puçá.
E dá-lhe procurar um inseto para que todos vejam um biólogo em ação. Sorte a minha eu ter conseguido pegar uma micro-mariposa (único inseto voador que assistia à palestra), enquanto me esforçava para não comprometer a figura do biólogo... mal sabiam eles que minhas habilidades com a pipeta (micropipeta, para ser exata) e um tubo eppendorf superam em muito minha desengonçada performance com o puçá (até porque pegar moscas varejeiras com puçá é tecnicamente mais fácil do que pegar mariposas ariscas).
Mas, apesar de divertido, descobri que o “falar simples” é uma tarefa complexa, e sendo arte, requer talento, dedicação e inspiração. Ser simples ao falar de ciência não é o mesmo que ser simplório... ou seja, existe uma linguagem científica, onde diferentes modalidades da ciência adotam termos próprios, o conhecido jargão, para definir conceitos e se expressar da melhor forma possível. O “falar simples” deveria traduzir completamente a linguagem científica? Acho que não é bem assim. No meu mundo ideal, o “falar simples” seria uma ponte para transportar o interessado (ou leigo?) para esse mundo particular, sem “facilitar” a ponto de entediar, nem improvisar a ponto de deturpar a informação. A linguagem científica se utiliza de termos próprios e desconhecidos do público geral para tentar traduzir a própria natureza, assim como Saramago nos provoca a consultar o dicionário para trilhar seus densos – e inspirados – escritos. A arte do “falar simples” está no sucesso de uma divulgação científica que não violenta a linguagem científica, que acrescenta conhecimento àquele que lê – promovendo uma ampliação do universo deste – atraindo-o para uma outra dimensão. Ser um divulgador de ciência não é ser um tradutor, é ser um artista.