Mais uma vez um "post" sobre a análise de "DNA barcodes" (já comentado aqui e aqui), mas desta vez é mais autopromoção do que reflexão ou histórias passadas. Recentemente o CNPq lançou uma chamada para financiar a análise de DNA barcodes em larga-escala no Brasil, denominada "Identificação Molecular da Biodiversidade". A proposta de rede tem a coordenação do Prof. Dr. Claudio de Oliveira, pesquisador 1A do CNPq e docente da UNESP no campus de Botucatu. Foram aprovados 10 sub-projetos vinculados à rede, incluindo um sub-projeto sob a coordenação da Profa Dra Ana Maria L. de Azeredo Espin, da UNICAMP, que irá concentrar esforços para obter a caracterização da sequência de "DNA barcodes" de mais de 2.000 espécies de invertebrados terrestres. Minha participação neste sub-projeto já rendeu um nota divulgada no "site" da UFSCar.
Nota de esclarecimento: "DNA barcodes" refere-se a uma estratégia de análise que compara as sequências de DNA de um trecho de ~ 650 pb (pb = pares de bases ou nucleotídeos) do gene da subunidade I da Citocromo Oxidase C - COI, um gene codificado pelo DNA mitocondrial, de várias espécies animais (incluindo vários indivíduos de cada espécie, podendo variar entre 3 até 10). A análise da divergência encontrada na comparação entre quaisquer 2 sequências (ou seja, a quantidade de variação entre elas) pode indicar se as sequências pertencem a uma mesma espécie ou a duas espécies distintas. Um ponto importante que pode tornar esta análise mais complexa é que existe polimorfismo genético nestas sequências, ou seja, existe variação genética mesmo entre dois indivíduos da mesma espécie. Então a análise precisa ser baseada em intervalos de variação, limites e uma boa amostragem. Na tradução para o português, o "DNA barcodes" tornou-se o "código de barras da vida", uma estratégia que requer enorme integração das áreas de taxonomia e genética, ao meu ver imprescindíveis para a condução de estudos cientificamente bem fundamentados.
Reproduzo abaixo a notícia, na íntegra, que saiu vinculada na página de internet do campus Sorocaba da UFSCar após entrevista com Márcia Dias do CCS/UFSCar-Sorocaba:
"Docente do campus Sorocaba participa de pesquisa sobre Identificação Molecular de Invertebrados Terrestres
A docente Ana Cláudia Lessinger, do campus Sorocaba da UFSCar, integra um grupo de 50 pesquisadores de todo o Brasil que desenvolverá um estudo em rede sobre a Identificação Molecular da Biodiversidade Brasileira (BR-BoL). O projeto recebeu um financiamento de R$ 5 milhões do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O estudo terá como base a caracterização de sequências de DNA das mais variadas espécies de borboletas, mariposas, abelhas, formigas, moscas, besouros e minhocas.
A pesquisa de Lessinger integra o grupo que trabalhará na identificação molecular dos invertebrados terrestres da fauna brasileira. Este subprojeto terá a coordenação da pesquisadora Ana Maria Lima de Azeredo Espin, da Unicamp, e o financiamento específico de R$ 600 mil. A docente da UFSCar, que tem experiência na área de Genética com ênfase em genômica mitocondrial e comparativa, também está orientando uma dissertação de mestrado sobre o uso de sequências de DNA para identificação taxonômica de moscas e participa da gestão da equipe de trabalho junto à coordenação do sub-projeto.
Segundo a docente do campus Sorocaba, estima-se que a pesquisa fará inicialmente a análise de DNA para a identificação taxonômica de aproximadamente 2.250 espécies de invertebrados terrestres, a partir de análise de amostras recém-coletadas e exemplares de museus e coleções entomológicas. Lessinger considera a realização dessa pesquisa importante para o Brasil. "A proposta é estabelecer um sistema de identificação molecular para integrar inventários de biodiversidade no País", explica. Sendo o Brasil um país com alta diversidade de espécies animais, essa pesquisa é um esforço pioneiro no sentido de acessar a biodiversidade molecular brasileira. Segundo Ana, os pesquisadores acreditam que o que se conhece da diversidade de invertebrados, representa apenas 10% do que se prevê que exista. "Esta identidade molecular, depositada em banco de dados, promove o acesso ao conhecimento taxonômico além de representar uma estratégia inovadora e de caráter multidisciplinar", afirma a docente.
No campus Sorocaba, Ana Lessinger vai desenvolver sua pesquisa no laboratório de Genética Molecular, onde serão realizadas as extrações de DNA e o isolamento da região gênica que será estudada. O sequenciamento desse material será feito pelo Laboratório de Genética e Evolução Animal da Unicamp. As sequências nucleotídicas serão enviadas para o Núcleo de Bioinformática do BR-BoL (Fiocruz-MG) e, posteriormente, estarão disponíveis para a análise que será feita pela equipe da professora Ana Lessinger, nos laboratórios do campus Sorocaba da UFSCar."