quarta-feira, março 28, 2012

Pseudogenizar?? Só americano mesmo para inventar nome...

CoverLi hoje um artigo na PNAS sobre a evolução de paladar em mamíferos (Jiang et al. (2012). Major taste loss in carnivorous mammals. PNAS, v. 109 (13): 4956 - 4961), especificamente tratando da perda de receptores para determinados sabores em carnívoros. Os autores já haviam identificado que gatos são indiferentes a componentes adocicados e explicado que isso ocorre devido a alterações no gene Tas1r2* , que codifica o receptor Tas1r2. Sem receptor para determinado sabor não há como o animal sentir determinado gosto. Evolutivamente, além de gastronomicamente, é importante o animal "perceber" o que come, afinal é uma atividade extremamente associada à sobrevivência da espécie, não? E os bichos que engolem inteiro sem mastigar, sentem o sabor*2?  Se, anyway, as criaturas nem sentem mais o sabor, a "natureza" (academicamente chamada de "seleção natural") torna-se menos intolerante com relação à preservação das funcões do receptor (no caso, do Tas1r2) e não exige mais o certificado ISO9000 daquela estrutura. Pois bem, se não há mais "ninguém supervisionando", ninguém vai notar se começarem a aparecer organismos com defeitos de fabricação justamente neste receptor, não é? Se não notarem, estes individuos desprovidos de paladar para algum sabor terão as mesmas probabilidades que quaisquer outros (mesmo com paladar sofisticado) de reproduzir e popular com seus descendentes a próxima geração. Enfim, um cenário no qual determinada espécie não sente determinado sabor pode ser uma realidade. E é! Os autores do estudo concluem que a perda de função do receptor de sabor em mamíferos é uma fenômeno amplo e está diretamente relacionado a especializações alimentares. E os pseudogenes sugeridos no título... onde entram na história? Lembram o Tas1r2? Se não há ninguém supervisionando, mutações espontâneas que assolam o gene - e escapam dos sistemas de reparo - permanecerão na população e serão transmitidas geneticamente aos descendentes (são elas as responsáveis pela perda da função do receptor - num cenário com "supervisor intolerante" os organismos que possuem mutações neste gene não estariam mais entre nós, entende?). Qual nome se dá ao gene agora que ele está mutado e perdeu a capacidade de codificar uma proteína funcional? Ele perde seu status de gene, caindo no ranking genético para a posição de pseudogene (pseudo = falso, parece mais não é: denorex! Alguém ainda lembra dessa propaganda da idade da pedra lascada?). Segundo os pesquisadores, que analisaram 12 espécies de caranívoros, 7 destas espécies PSEUDOGENIZARAM o Tas1r2 de forma independente (eventos múltiplos) em resposta a mutações que corromperam o quadro de leitura do gene ("ORF-disrupting mutations"). Nunca tinha visto o emprego deste termo: pseudogenização, gene pseudogenizado, vós pseudogenizais... compreensão imediata do sentido, mas que é estranho, é! Apesar do genes ser "pseudo", a ciência é da boa! :)  
*1 a regra diz que, no texto, os nomes dos genes devem vir em itálico para não confundir com a proteína que eles codificam e o leitor identificar, mais facilmente, a qual a entidade - gene ou proteína - faz-se referência.
*2 a avó de certas pessoas que eu conheço vive repetindo que é preciso "saborear os alimentos", isso porque certos animais e certas crianças só sabem o que comem pelo sentido a visão!

segunda-feira, março 26, 2012

Scientific American Brasil: mas que idéia foi essa?!

Fora de contexto... para dizer o mínimo. Foi com indignação que terminei de ler a nota intitulada "A eficiência questionada da homeopatia" (edição 199 - abril 2012) do quadro SAÚDE que compõe a seção AVANÇOS sobre homeopatia para plantas nesta revista vista por alguns como "uma das melhores revistas de divulgação científica" do Brasil. É triste constatar que quando houve a inserção de um conteúdo especificamente nacional (muito desejável quando se tem uma versão BR), selecionou-se uma matéria carregada com uma dose extra de ideologia... inquestionável a visão parcial e pseudocientífica do texto ali publicado. O título parece ir em um sentido enquanto o conteúdo se desenvolve em outro... a autora indica que o erro mais comum daqueles que questionam o efeito da homeopatia refere-se ao desconhecimento sobre  os princípios da física quântica que o regem, desvencilhando-se de argumentar sobre as bases químicas que representam a maior fragilidade do método de potencialização empregado pelas práticas homeopáticas.  Imaginei que a formação da autora fosse nessa área, justificando sua incursão nos domínios quânticos, mas não é... Antes de chegar a este texto, li outros, da mesma revista, mas depois de experimentar essa sensação descontextualizante, desisti de continuar lendo o que quer que fosse dessa edição. Respeito opiniões pessoais sobre o tema, mas não as editoriais. Podem me bombardear... mas não resisti. 


quinta-feira, março 15, 2012

Será mesmo? Divulgação científica avança um degrau!

Soube hoje em conversa informal com minha orientadora (seria "ex-", mas acho que soa antipática a referência "ex-orientadora" e raramente a utilizo), que uma revolução está se formando no horizonte da divulgação científica: o esforço do pesquisador em promover oportunidades de divulgação científica pode entrar no cálculo de produtividade do indivíduo e servir como mais um critério na lista de parâmetros medidos para avaliar a "performance" do cientista. Na minha perspectiva isso é revolucionário e recebo a notícia com grande entusiasmo e com esperanças renovadas de que esta iniciativa contribua para que a ciência seja cada vez mais popular e acessível à comunidade a quem ela serve.

Mais detalhes sobre este assunto na notícia divulgada no Jornal da Ciência, edição de hoje. Ficam os fogos de artifício como minha manifestação de apoio à iniciativa do Presidente do CNPq, Glaucius Oliva, ao fundo imaginem o som de "Fireworks" de Katy Perry...

nota 10!