quinta-feira, julho 27, 2006

cientista robô?

Acaba de sair um artigo na revista Bioinformatics com o seguinte título:

"An ontology for a Robot Scientist"

(referência: Soldatova, L.N.; Clare, A.; Sparkes, A. & King, R.D (2006) Bioinformatics, 22(14):e464-e471; doi:10.1093/bioinformatics/btl207)

Repasso a seguir um trecho do resumo do artigo (publicado no formato de acesso-aberto ou acesso-livre):

Motivation: A Robot Scientist is a physically implemented robotic system that can automatically carry out cycles of scientific experimentation. We are commissioning a new Robot Scientist designed to investigate gene function in S. cerevisiae. This Robot Scientist will be capable of initiating >1,000 experiments, and making >200,000 observations a day. Robot Scientists provide a unique test bed for the development of methodologies for the curation and annotation of scientific experiments: because the experiments are conceived and executed automatically by computer, it is possible to completely capture and digitally curate all aspects of the scientific process. This new ability brings with it significant technical challenges. To meet these we apply an ontology driven approach to the representation of all the Robot Scientist’s data and metadata.
Pergunta: será que a atividade do cientista pode ser reduzida ao formato robótico? Não deveria ser algo mais na linha "robô científico" (= que executa tarefas científicas/conotação técnica) do que cientista-robô? Ou será que preparar uma bateria de reações de PCR, sequenciamento ou qualquer outra peripécia das bancadas de laboratórios de biologia molecular é suficiente para qualificar o sujeito (ou máquina) como cientista? Parece que cada vez mais, termos como reflexão e criatividade perdem espaço no mundo tecnológico (e eu sou favorável ao "tecnológico", mas sem perder a dimensão do talento humano). Um robô dificilmente será um cientista, assim como não será um artista (por mais que possa ser uma "fotocopiadora de luxo", com habilidade para trabalhar na bancada, não terá nunca "o brilho nos olhos" que vem com a descoberta científica). Faça uma observação rápida com qualquer aluno de iniciação científica e a evidência será monumental a favor do entusiasmo humano como parte integrante da definição de cientista!

5 comentários:

João Alexandrino disse...

Concordo Ana Claudia! Mas o problema é que existem muitos cientistas humanos que não se diferenciam muito do robô. É comum ver bolsistas de pós-graduação serem "contratados" para atender às necessidades robóticas de grandes projetos ávidos de mão de obra bio-tecnológica não criativa. Assim, sou a favor da substituição dessa horda de robôs humanos por "cientistas robô", evitando o atrofiamento de seus cérebros, que ficarão livres para atividades um pouco mais criativas. Abs.

Silvia Cléa disse...

Oi, Ana!

É verdade, nesse aspecto o João está certo. Pelo menos, qdo os tais robôs estiverem em ação, permitirão aos cientistas realizar suas tarefas essenciais: pensar, racionar e criar...com isso, se emocionar!
[]s,

via gene disse...

Concordo com vocês dois, como eu disse, sou favorável ao tecnológico e sei o quanto o trabalho automático e repetitivo pode ocupar um pesquisador ou aluno. Mas o que eu queria evidenciar nesta crítica é que há o pergio do mau uso do termo "cientista" e que há de se preservar um pouco o significado real deste "nome". Neste sentido, não concordo com a afirmação do João "existem muitos cientistas humanos que não se diferenciam muito do robô" - estes não são cientistas, apesar de se utilizarem da alcunha ou se iludirem nesta fantasia. Será que esclareci um pouco a intenção inicial deste "post"?

Obrigada pelas manifestações!
abraços,

ana claudia

João Alexandrino disse...

Pois é Ana, eu apenas queria dizer que o mau uso do termo cientista nada tem que ver com o pobre do robô. Abs.

via gene disse...

João,

haha! é... gostei! Parece que o esforço para resgatar a "dignidade" do termo terá que ser um pouco mais "Hérculo"... nisso eu concordo! :)
abraços,
ana claudia