domingo, outubro 09, 2005

doutores sem fronteira...2

Continuando com os depoimentos sobre a experiência de pós-docs/doutorandos no exterior e a perspectiva quanto ao retorno ao Brasil...
Caso 2: PA
1) Nome ou alguma forma de identidade

PA – 37 anos natural de SP, mas carioca de coração.

2) área de formação/especialização no exterior

Biólogo formado em licenciatura pela UFRJ/92; mestre/96 e doutor/05 pelo IOC/FIOCRUZ; Pos-doutorado em imunologia da tuberculose/em andamento

3) expectativas quanto à experiência no exterior

Tive alguns percalços no início aqui nos EUA, como de praxe para quem está mudando de cultura e ambiente, mas nada que não pudesse ser superado aos poucos. Hoje, posso dizer que esta fase inicial nos serve de pavimentação para que ganhemos maturidade e encaremos as coisas sob uma outra ótica. Assim, vemos o Brasil com outros olhos, e as maravilhas de nosso povo com ainda outros. Mas também vem as comparações culturais, que deixam muito a desejar ao nosso povo quando se trata de coerência, ética, respeito e boa vontade. No que se refere ao trabalho em si, muitas coisas que vejo por aqui poderíamos implementar no Brasil, salvo as limitações orçamentárias e tecnológicas.

4) avaliação do confronto "expectativa X realidade"

Não tive este tipo de conflito pois venho de um laboratório na FIOCRUZ onde quase tudo o que faço por aqui, também poderia ser feito por lá. Porém, as facilidades que aqui encontro são tamanhas em comparação ao Brasil. Do tipo: uma análise que estamos fazendo e que teremos resultados já no mês que vem demoraria pelo menos um ano por lá, caso já tivessemos também os equipamentos montados.

5) expectaiva ou realidade quanto ao retorno ao Brasil

NENHUMA. Infelizmente, nosso país não me deu alternativas senão migrar para os EUA em busca de oportunidades. Não teria condições de viver de bolsas por uma eternidade, mesmo com um diploma de Doutor na mão. Isso sim me deu garantias de emprego por aqui. Concursos públicos são muito escassos na área de pesquisas, apesar do déficit de pessoal. Uma grande pena, pois apesar do investimento e apoio que o Estado brasileiro me deu ao longo dos últimos anos, e quando me sinto mais produtivo do que nunca em minha vida profissional para retornar este investimento ao povo brasileiro na forma de produção científica para nosso país, vim produzir e trabalhar para um país que não me formou ou investiu em minha carreira, mas veio colher os frutos deste investimento alheio.

6) top 5 aspectos positivos e top 5 aspectos negativos sobre sair do Brasil/viver no exterior

POSITIVOS:

Mudança cultural, Recompensa monetária justa, Contato facilitado com cientistas top na minha área, Domínio de uma segunda lingua e Amigos de outras nacionalidades.

NEGATIVOS:

Saudades da família, Saudades da pátria, Frio muito intenso, Inverno depressivo, distância da nossa cultura e Saudades dos amigos do Brasil.

Saudade não tem fim... abraço e sucesso PA, ana

doutores sem fronteira...

Para não deixar passar em brancas nuvens: a segunda SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA reuniu inúmeros eventos em instituições de ensino e pesquisa de todo País. Uma proposta deste blog foi apresentar algumas impressões de doutores brasileiros no exterior, de modo a tirar algumas questões da "marginalidade" nesta oportunidade de discutir o futuro da ciência e tecnologia no Brasil. Os textos enviados para este blog foram publicados na íntegra, o anonimato foi sugerido como uma opção e a proposta foi enviada no formato de um questionário, cada questão pode ser respondida individualmente ou na forma de um texto, integrando todas as respostas. Nas próximas postagens estarei apresentando estes testemunhos e agradeço sinceramente àqueles que gentilmente dedicaram um pouco do seu tempo nestas reflexões. Muito obrigada e sucesso, no Brasil ou fora dele.

As questões:

Texto introdutório: "Estou pensando em publicar no blog respostas de pesquisadores brasileiros, que estiveram ou estão no exterior, a um curto questionário. Pensei em ilustrar as "expectativas e realidades" enfrentadas pelo pós-doc ou doutorando nesta experiência. Seria algo assim:

1) nome ou alguma forma de identidade (apelido, pseudônimo - se quiser ficar anônimo);
2) área de formação/especialização no exterior;
3) expectativas quanto à experiência no exterior;
4) avaliação do confronto "expectativa X realidade";
5) expectaiva ou realidade quanto ao retorno ao Brasil;
6) top 5 aspectos positivos e top 5 aspectos negativos sobre sair do Brasil/viver no exterior"

Caso 1: Helô

"Meu nome é Heloisa, ou simplesmente Helô. Graduei-me em Ciências Biológicas pela UNICAMP, onde também fiz meu mestrado (em Microbiologia) e doutorado (em Biologia Celular). Agora estou nos Estados Unidos, em Nashville, TN, na Vanderbilt University, para um pós-doc, em Biologia Celular, na área de Nefrologia.

A minha expectativa em relação ao meu futuro após essa experiência é que eu consiga um diferencial para, quem sabe, conseguir um emprego no Brasil que me agrade. Quando digo que me agrade, estou falando que seja numa cidade boa, numa universidade/faculdade legal. A chance de vir pra cá apareceu meio que de bandeja, já que uma amiga minha estava aqui, soube da vaga e me avisou. Eu achei que seria uma boa oportunidade, pois, embora trocasse de tecido (de próstata para rim), eu ainda estaria dentro da Biologia Celular e mais especificamente, continuaria com Matriz Extracelular. Outro ponto importante e que me deixou um pouco animada foi ver que existem poucas pessoas no Brasil que publicam nessa área. Será uma chance a mais de poder “introduzir” uma linha nova!

Acho que logo que a gente chega num lugar novo (e nem precisa ser fora do país), a gente cria muitas expectativas, principalmente querer trabalhar muito para ter vários resultados. Bom, logo os ânimos acalmam pois a gente se dá conta de que o tempo passa muito rápido, mas as coisas acabam não andando na velocidade que você gostaria que fosse. Agora estou com seis meses de trabalho e se tivesse que apresentar resultados, não os teria... Chega a ser um pouco desanimador, mas por outro lado as promessas são grandes e a isto associa-se o fato de sermos mais “experientes” e sabermos que as coisas demoram um pouco a acontecer. Meu chefe diz que um bom pós-doc é de 2-3 anos. Tenho que concordar. Por outro lado, acho que para nós, qualquer experiência é válida. O problema de ficar pouco tempo (1 ano) é que provavelmente não dará tempo de fechar um paper (mas isso também depende um pouco da área) e, embora não se perca a publicação, provavelmente seu nome não será mais o primeiro... Mas eu penso que um ano é melhor do que nada. É legal ver o jeito como eles pensam, a realidade do trabalho deles e ver o porque de algumas coisas serem fáceis aqui e também ver alguns defeitos e até mesmo inexperiências, coisas talvez que a falta de dinheiro ou a ciência mais básica resolve mais facilmente.

Por enquanto sei que quero voltar pro Brasil e não penso em outra possibilidade. Mas as oportunidades aqui são muito boas e dependendo do grau de descomprometimento que se tem com pessoas/coisas do Brasil, profissionalmente não há dúvida de que aqui é um bom lugar pra um biólogo. Como faz pouco tempo que estou aqui, não tenho pensado muito sobre as expectativas que tenho em relação ao Brasil. Sei que a realidade é difícil e vejo isso pelos meus amigos que aí estão!

Minha lista de pontos positivos: crescer pessoalmente, trabalhar num país onde se investe na pesquisa, aprender a discutir resultados, conviver com pessoas de toda parte do mundo, aumentar a “network”. Os pontos negativos: estar longe da família e dos amigos, muitas vezes não conseguir se fazer entender (mas este é um problema que varia de pessoa pra pessoa)... Que bom que por enquanto só sei dois! Isso quer dizer que ainda estou bem :)!!!"
É isso aí Helô! Estamos na torcida pelo seu sucesso! ana