quinta-feira, junho 24, 2010

Post-propaganda do núcleo ETC da UFSCar Sorocaba

E-ducação

T-ecnologia

C-ultura

A UFSCar campus Sorocaba conta com um novo espaço para difusão de Educação, Cultura e Ciência que pretende oferecer uma interface entre universidade e comunidade para promover a elaboração de projetos nestas áreas. Ontem foi inaugurada a primeira etapa de revitalização deste espaço (ou Núcleo de Educação, Tecnologia e Cultura), que está passando por uma extensa reforma. Há um auditório para mais de 200 pessoas, salas de informática, sala de projetos e outros espaços a serviço da formação científica e cultural de Sorocaba e região. Dirigentes da UFSCar e figuras públicas e políticas participaram ontem do evento de inauguração e reafirmaram, em praticamente todos os discursos, que a articulação de diferentes esforços, aliando diferentes frentes políticas e acadêmicas em torno de uma proposta comum, funcionou muito bem para que este espaço fosse concretizado (quase que literalmente :)), a exemplo do histórico de implantação do próprio campus da UFSCar na cidade de Sorocaba O prédio onde está instalado o núcleo fica no Bairro Santa Rosália, próximo ao Supermercado Extra. Saiba mais aqui.

segunda-feira, maio 31, 2010

Encaminho ao ViaGene uma mensagem que recebi por e-mail e que mostra um pouco da dor e frustração de pesquisadores do Instituto Butantan sobre as declarações do ex-diretor do instituto.

Caros Colegas,



Não bastasse a tragédia em si, declarações estarrecedoras de liderança científica denigrem ainda mais a imagem da Instituição. Lamentamos.


Abaixo, encaminhamos um texto elaborado por Pedro Nunes e Felipe Curcio do IB-USP, publicado na íntegra no http://colunas.epoca.globo.com/planeta/2010/05/20/cientistas-rebatem-declaracao-de-ex-presidente-do-butantan/


Compartilhamos dessa opinião.

Laboratório de Ecologia e Evolução


Instituto Butantan


Otávio Marques
Maria José de J. Silva
Nancy Oguiura
Ricardo Sawaya
Selma Almeida-Santos
Hebert Ferrarezzi


Apelo dos bobos aos que não querem reconstruir

O incêndio que consumiu tragicamente o maior acervo de serpentes e artrópodes neotropicais sediado no Instituto Butantan atingiu em cheio quase toda a comunidade científica do Brasil e do mundo. O termo “quase”, entretanto, é obrigatório nesta frase. Se um, e apenas um cientista, acredita que a coleção perdida era uma bobagem, e que o que se perdeu nada significa diante de outras questões prioritárias como a produção de vacinas e soros, já não seria unânime considerar o ocorrido como trágico.

Infelizmente, o depoimento do Prof. Dr. Isaías Raw à Folha de São Paulo, em 20/5/2010, atesta esta triste realidade. Segundo o Dr. Raw, a coleção “é uma bobagem medieval” e a única função do Instituto Butantan é “fazer vacina para as crianças” e não “cuidar de cobras guardadas em álcool”.

É curioso como a opinião pessoal do Dr. Raw destoa da visão da imensa maioria da comunidade científica. Pode-se até respeitar que ele acredite que o Instituto Butantan devesse se dedicar unicamente à pesquisa aplicada, deixando de lado a pesquisa básica, ainda que a história diga o contrário. Fosse assim, o acervo de mais de 80 mil serpentes e 450 mil artrópodes não teria sido construído em 100 anos de trabalho, à revelia de gente que opina como o Dr. Raw e da falta de apoio pelo poder público.

Parte da história da fauna brasileira foi incinerada. Espécies raras, criticamente ameaçadas de extinção, estavam somente representadas no acervo perdido. Outras, só foram descobertas e trazidas ao conhecimento público graças à existência deste acervo. Isso sem contar as várias espécies novas, ainda não catalogadas pela ciência, cujas descrições estavam em andamento com base em espécimes que se perderam no incêndio.

E porque tanto fogo? Seria de fato bobagem armazenar espécimes em um líquido combustível como o álcool? Este procedimento de estocagem é padrão internacional. Qualificá-lo como “bobagem” é o mesmo de dizer que são “bobos” todos os museus de renome mundial, nos Estados Unidos, na Europa e em outros centros de excelência de pesquisa em zoologia. Será que o único investigador inteligente no mundo é de fato o Dr. Raw? Será que todos os inúmeros colegas que se comovem com a perda do acervo do Butantan estão de fato perdendo seu precioso tempo juntando esforços para reconstruir esta “bobagem”?

Como, até o momento, nenhum colega manifestou-se de forma semelhante ao Dr. Raw, sua afirmação parece vazia, desrespeitosa e, acima de tudo, cruel. Mesmo o “mais importante zoólogo vivo do Brasil” (conforme relato da própria Folha), apesar da crítica descabida ao trabalho dos investigadores do Butantan, reconhece a importância do acervo no mesmo artigo em que o Dr. Raw expressa sua controversa opinião.

Para dar alguns exemplos práticos e diretamente aplicáveis de como as coleções científicas do Instituto Butantan eram usadas, entre muitas outras aplicações, é através de acervos assim que a classificação de serpentes e artrópodes peçonhentos é possível. Graças a “bobagens” como esta, é possível identificar a existência de diferentes grupos de ofídios ou aracnídeos e assim desenvolver soros específicos e mais eficientes para cada um desses grupos. A impressionante produção científica do Dr. Raw é principalmente embasada em imunização.

Teria ele a consciência de que o desenvolvimento de soros e vacinas eficientes depende da identificação precisa do patógeno, bem como do estudo de suas relações de parentesco? Ficamos curiosos em saber como Dr. Raw foi capaz de produzir tanto conhecimento sem o apoio de sistematas e taxonomistas, profissionais que trabalham com o tipo de “bobagem” que o fogo destruiu.

Mais sensato seria se o ex-presidente da Fundação Butantan optasse pelo silêncio e celebrasse a tragédia no conforto de sua residência. Vir a público com declarações infundadas, reducionistas e sarcásticas é inadmissível e confunde a opinião pública que estava, até então, tendo uma rara oportunidade de vivenciar uma discussão sensata sobre a importância de se preservar e investir em coleções científicas como a que se perdeu. Entretanto, a considerar pelo seu estilo de gestão, historicamente criticado e visto como deletério por muitos dos colegas que trabalham no Instituto Butantan, a declaração do Dr. Raw não surpreende a ninguém que o conheça.

Neste momento tão inoportuno, seu sarcasmo e sua arrogância apenas tornam seu depoimento mais dolorido. É como se, durante o velório de um ente querido, a família fosse obrigada a aturar um lunático invadindo o salão, estourando uma garrafa de champagne e celebrando a ausência definitiva do morto. Por sorte, em algum momento, vozes inoportunas terminam por se calar, de um modo ou de outro. Assim desejamos.

Que falem os que tem algo de construtivo a dizer. Que falem os que sabem o quanto é difícil renuir recursos para a pesquisa de base no país. Que falem os que tem consciência que sem a investigação de base, “cientistas brilhantes” como o Dr. Raw não teriam escrito sequer uma linha aproveitável de ciência. Os demais, por favor, respeitem esta perda irreparável do patrimônio público.

Felipe Franco Curcio
Pós-Doutorando
Depto. Zoologia do Inst. de Biociências da USP

Pedro M. Sales Nunes
Doutorando
Depto. Zoologia do Inst. de Biociências da USP

segunda-feira, maio 17, 2010

A CIÊNCIA PERDE UM ACERVO INESTIMÁVEL: INCÊNDIO DESTRÓI COLEÇÕES DE SAPOS, COBRAS E LAGARTOS DO INSTITUTO BUTANTAN

O incêndio que ocorreu neste final de semana no Instituto Butantan atingiu em cheio a Ciência Brasileira. O que tem sido divulgado na mídia não reflete a real dimensão da tragédia, a perda - de forma tão devastadora e definitiva - deste acervo biológico. Este impacto não se mede apenas em números de espécies e amostras de répteis, anfíbios e aracnídeos. Obviamente os números são importantes para saber que se perdeu uma das maiores coleções de cobras do mundo. Mas apenas esta informação não traduz o que isso realmente significa em termos de pesquisa científica, os diversos projetos em andamento que foram interrompidos e sabe-se lá como alunos e pesquisadores irão superar este trauma e reconduzir seus esforços e sonhos para a reconstrução de uma nova perspectiva científica. Uma coleção não é apenas um punhado de bichos mortos guardados em frascos cheios de formol... são estudos sobre estratégias de vidas, ocupação de habitats, padrões de distribuição geográfica, registros históricos de ocorrência de espécies em áreas de florestas que talvez nem existam mais, registros de espécies endêmicas (ocorrem apenas em uma região determinada) e raras, estudos de identificação de novas espécies ainda desconhecidas da ciência (que correm o risco de continuarem assim... apagadas do registro biológico, fumaça biológica). Com certeza há uma infinidade de outros estudos que podem ser elencadas aqui com muito mais propriedade por zoólogos, taxonomistas e  sistematas (como geneticista - mas também bióloga - deixo uma contribuição mais tímida e generalizada sobre o impacto desta perda, convido os especialistas da área para incluírem relatos mais específicos). Alguns breves depoimentos podem ser vistos aqui. Com relação ao que circulou na mídia, o texto que eu achei mais interessante e informativo foi o do "site" do Estadão (http://www.estadao.com.br/), inclusive com direito à Glossário (leia aqui). Uma frase muito perturbadora atribuída ao zoólogo Francisco Luis Franco, curador da coleção que virou cinzas, revela: "Todas as outras coleções estão vulneráveis do mesmo jeito." Recorro ao via gene para tentar expressar, de alguma maneira, minha solidariedade com aqueles mais diretamente envolvidos neste triste fato que se registra na história da ciência Brasileira neste ano de 2010. Lembro ainda que no ano passado, durante o encontro de 10 anos do programa Biota-FAPESP, muito se falou da necessidade de investimento para manutenção de coleções e museus de biologia para salvaguardar estes patrimônios biológicos e científicos. Eis aí um exemplo do que pode acontecer se ignorarmos esse apelo.
O sentimento realmente é de luto.

sábado, abril 24, 2010

"molecular tools" ou as famosas "ferramentas" moleculares

"Ferramentas moleculares" é um termo amplamente empregado em textos e artigos científicos quando se referem às tecnologias e processos (ou metodologias) que empregam equipamentos e protocolos da área de biologia molecular. Em meus textos acadêmicos e científicos e em aula, eu também recorro ao termo em inúmeras oportunidades, mas não sem uma certa resistência com relação ao conceito que eu formei sobre as famosas "ferramenteas moleculares" e à interpretação mais óbvia e - talvez - mas difundida que se encontra na divulgação deste termo. Como este espaço tem uma pequena pretensão de divulgar idéias e conceitos em ciência e tenho a liberdade de expressar minha experiência no assunto da forma mais particular e pessoal que quiser (por ser um blog, mesmo que científico), gostaria de estender um pouco mais o conceito de "tools" agregando a minha visão. 

Um texto que eu considero muito esclarecedor e elevo à qualidade de "clássico" da literatura da área de biologia molecular e evolução trata da técnica de PCR (ou Polymerase Chain Reaction - em inglês), detalhando a participação de cada reagente (soluções e enzima) no processo, integrando o papel de gradientes de temperatura que variam dentro de ciclos programados em um equipamento chamado de 'máquina de PCR" ou termociclador. O texto em questão é de autoria do pesquisador Stephen R. Palumbi, e se refere ao capítulo 7 do livro Molecular Systematics, editado por David M. Hillis, Craig Moritz e Barbara K. Mable, versão 1996 (Sinauer Associates).


Naquela época, o livro foi um marco por apresentar a fundamentação teórica de inúmeras estratégias moleculares, esclarecendo vários aspectos relacionados à rotina de laboratórios e grupos de pesquisa no uso de técnicas modernas em estudos em biologia evolutiva e evolução molecular, incluindo protocolos experimentais e resolução de problemas comumente associados às "ferramentas moleculares" (incluindo não só PCR e estratégias derivadas - RAPD, AFLP, Microssatélites (ainda em sua infância) - como também análises de Isozimas, RFLP, Hibridação DNA-DNA, etc.). Acredito que este tipo de publicação promoveu a popularização de estudos evolutivos integrando áreas como zoologia, botânica, genética e biologia molecular (entre outras).


Há algumas passagens muito interessantes e reveladoras neste texto, onde o autor afirma que uma das coisas mais surpreendentes sobre a reação de PCR é que ela funcione tão bem para tanta gente, considerando-se a complexidade de interações químicas e termodinâmicas inerente ao sistema ("The fact that it works so well for so many people is one of the most astonishing things about it"). Outros dois trechos que me causam grande simpatia e identidade ocorrem quando o autor afirma que: 1) a máquina de PCR é uma ferramenta EXPERIMENTAL (maiúsculas por minha conta!) ("... an important aspect of PCR that is frequently overlooked: a PCR machine is an experimental tool, not just a troublesome gadget designed to produce a DNA product") e 2) que cada reação de PCR é uma oportunidade experimental ("...it is important to treat the PCR process as an experimental opportunity").

São contextualizações como estas que revelam claramente o conflito presente na interpretação do que vem a ser uma "ferramenta molecular". Uma chave-de-fenda, um martelo ou uma solda elétrica poderiam ser considerados "oportunidades experimentais"? O uso de uma ferramenta, ou de uma receita, seguindo instruções recebidas após treinamento ou mesmo sem ele, sempre geram o resultado previsto (excluindo-se a possibilidade de erro do "operador"). Ao menos essa é a idéia básica normalmente associda ao benefício de usar uma ferramenta: a chave-de-fenda sempre é operada da mesma forma para apertar um determinado tipo de parafuso à determinada superfície; a criatividade não seria um requisito importante neste cenário.

Conduzir um experimento que involva uma reação de PCR, ou qualquer outra metodologia molecular, requer que seja seguido um protocolo experimental, MAS NEM SEMPRE o resultado obtido (ou a ausência deste) concorda com o resultado esperado (qualquer um que já tenha feito algumas reações de PCR poderá depor a meu favor neste aspecto :)). Segundo Palumbi, mesmo um biólogo molecular experiente tem dificuldade de prever com precisão como uma alteração em algum dos componentes da reação irá interferir na qualidade do resultado final. Outra dificuldade é o orientador definir para o aluno (ou vice-versa) porque determinada reação de PCR resultou na ausência de amplificação ou na amplificação de múltiplos produtos ou produtos inespecíficos. Isto se deve à natureza EXPERIMENTAL dessa "ferramenta". É exatamente essa "natureza" que difere entre a máquina de PCR e máquina de solda... há uma forte demanda pelo exercício intelectual, constante e investigativo, no uso de ferramentas moleculares para garantir a obtenção dos resultados esperados conforme expectativa e cronogramas apresentados nos projetos conduzidos pelo grupo de pesquisa.


Estando isso esclarecido, não tenho maiores restrições ao uso do termo "ferramenta" para designar certas estratégias ou técnicas moleculares. Imagino que esta opinião não seja uma unanimidade na comunidade científica, pelos exemplos que tenho visto associados ao uso do termo de forma superficial e simplória, mas compartilho com vocês minhas impressões sobre este assunto. Comentários e críticas são bem-vindos!


ana claudia


PS - a inspiração desta postagem veio - principalmente - pela discussão do texto de S. Palumbi realizada recentemente na disciplina "Métodos Moleculares para Caracterização da Biodiversidade" inserida no Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica e Conservação da UFSCar - Sorocaba. Outra fonte de inspiração mais "crônica" refere-se à resistência da minha orientadora (de IC e pós) com relação ao uso deste termo nas diversas oportunidades de revisão dos meus textos acadêmicos (agradeço pela oportunidade de refletir sobre isso durante minha formação :)).

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

há cinco anos nascia o via gene...

"Parabéns prá você... nesta data querida..."

Aos trancos e barrancos da vida acadêmica, vai sobrevivendo com muita alegria e satisfação o blog via gene.

Comemoro nesta postagem seus 5 anos de vida! Apesar de estar longe dos "top 10" melhores blogs de ciência brasileiros, talvez o via gene possa se orgulhar de estar entre os 10 primeiros... em idade... :)

Enfim, o via precisa melhorar seus assuntos, sua regularidade, sua frequência de postagem (faltou alguma coisa?), mas não tem problemas com sua persistência (3 x 1)!

um abraço a todos que ainda prestigiam, visitam e comentam no via gene (foi um privilégio contar com vocês ao longo destes 5 anos),

ana claudia


terça-feira, fevereiro 16, 2010

ciência, academia e violência

Tiroteios em escolas e universidades são frequentemente noticiados na midia internacional, quase sempre ocorrendo nos Estados Unidos. Aí está o filme-documentário "Tiros em Columbine"do polêmico diretor e ativista político Michael Moore que não me deixa mentir. Claro que a realidade brasiliera também noticia - e com certa frequência - a ocorrência de tiroteios e mortes em escolas (uma amostra, outra amostra), normalmente motivadas por questões envolvendo tráfico de substâncias ilícitas e questões "territorias" envolvendo gangues formadas nas escolas ou mesmo fora delas.

Mesmo assim, considerando este "traço" da cultura americana (conforme a visão de Moore), sempre me surpreende uma notícia de violência explícita como ocorreu semana passada na Universidade do Alabama, EUA. Mais surpreendente porque os holofotes não focaram em adolescentes introspectivos, nem estrangeiros de comportamento anti-social, mas em uma docente e pesquisadora de ~40 anos de idade, com reconhecida capacidade científica, incluindo experiência acadêmica na famosa universidade de Harvard, prêmios científicos e sócia (junto com o marido) de uma empresa de biologia molecular e celular, uma neurocientista. Esta cientista, professora assistente de biologia, foi - armada (!) - a uma reunião com uma comissão formada por outros docentes da instituição para discutir sua permanência na universidade. Nos Estados Unidos, a sistemática de contratação de docentes pelas universidades inclui um longo período probatório (que pode chegar a até 10 anos, se não me engano) como professor assistente, ao término deste período o docente é avaliado com relação à sua produtividade em pesquisa, qualidade e esforço como docente e atuação em serviços (algo como aqui conhecemos por atividades de extensão). Caso esta avaliação indique que o docente atingiu (ou superou) as metas previstas, ele fará parte do quadro de docentes permanentes (passando de Professor Assistente para Professor Associado ou "Tenured Professor") da instituição, sendo garantida a - tão desejada - estabilidade no emprego*. Note-se que nas Universidades Federais brasileiras estes mesmos termos, Professor Assistente e Prof. Associado, não possuem a mesma definição adotada nos Estados Unidos (Assistente = com mestrado; Associado = livre-docente; entre os dois figura a posição do Adjunto = com doutorado); e o período de estágio probatório é de apenas 3 anos.

Voltando ao caso americano: durante a tal reunião, a professora que estava sendo avaliada realizou uma série de disparos matando 3 pessoas e ferindo outras 3 (uma em estado grave). Pela divulgação na mídia, a motivação do crime foi a resposta negativa da comissão avaliadora quanto à promoção da titulação acadêmica da solicitante, Dra. Amy Bishop. 

Muita informação está sendo apresentada sobre a personalidade de Amy Bishop, que era tida como extremamente arrogante (mas especula-se que era uma cientista brilhante e uma docente dedicada), sobre um episódio violento do seu passado (aos 20 anos ela foi considerada inocente pela morte do irmão, de 18, por ter disparado uma arma "acidentalmente"...) e sobre a possibilidade dela ser doente mental ou estar sob o efeito de anti-depressivos. O que inspirou este texto foi a postagem do blog Terra Sigillata, de Abel Pharmboy, UA Huntsville Dr. Amy Bishop holds active NIH R15 AREA award. Outro texto relacionado é o "post" mais recente Amy Bishop UAH case: What role should personality or collegiality play in tenure decisions? Ambos os textos estão repletos de comentários com opiniões e curiosidades sobre o sistema acadêmico norte-americano. Talvez um pouco distante da nossa realidade, mas vale a pena dar uma olhada, especialmente quando a violência traz como protagonistas professores de biologia.  

Um trecho extraído do blog de Abel Pharmboy em que ele cita uma entrevista com um professor de psicologia da Universidade do Alabama que foi publicada no jornal Decatur Daily:

"In today's Decatur Daily, staff writer Eric Fleischauer has an extended interview with UAH psychology professor Eric Seemann. You really should read the whole thing because it provides an inside view of Bishop's personality and relationships. But here is a critical passage:

Despite her excellent research ability, Seemann was not surprised she struggled to obtain tenure.

"Amy was kind of hard to get along with," he said. "I've talked to people who said, 'Wow, she can be really arrogant,' or be really headstrong. I knew that to be true. But at the same time she was brilliant. She was really one of UAH's rising research stars. People I know in biological sciences would say, 'She's a great researcher, but she's lousy to work with.' "

She was brilliant and she knew it.

"At one meeting I was with Amy, she was complaining to a group of us. She said she was denied tenure not because she was a lousy researcher -- she's not, quite the opposite -- and not because she didn't have good classes, she believed she did -- I think some might say otherwise -- but because she was accused of being arrogant, aloof and superior. And she said, 'I am.' "


É ou não é de deixar qualquer um perplexo?

abraços aos eventuais leitores de todas as horas,

ana claudia

* Richard Dawkins na obra "A grande história da evolução" comenta que haveria uma "degeneração" das estruturas cerebrais de alguns acadêmicos durante o desenvolvimento que se segue ao contrato permanente (ou efetivação). pg. 432 da edição em português da Cia das Letras :)  

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Vôo improvável...

Nota curiosa do cotidiano de um laboratório de genética molecular:

Hoje estávamos (eu e meus alunos) dedicados a fazer uma extração de DNA para testar um novo protocolo experimental. Eu falando da importância de realizar esse procedimento em um ambiente limpo e livre de "n" possíveis comtaminações para que a extração do DNA das nossas amostras fosse bem-sucedida e assim todos os outros procedimentos de genética molecular que se seguem a uma extração.

Nestas análises, o controle do que está acontecendo no ambiente "macro" (luvas, tubos, reagentes, gelo, centrífugas, pinças, ponteiras, micropipetas, etc.) é fundamental para tentarmos saber o que pode estar acontecendo no ambiente "micro" (as interações moleculares dentro de um tubinho com capacidade máxima para 1ml e meio - esse é o nosso MAIOR tubo!).

Então, lá estava eu nessa conversa toda, cheia de controles (todas as janelas e portas fechadas - nesse calor ABSURDO que anda fazendo - para evitar as tais possibilidades de contaminação do nosso ambiente de trabalho por sujeiras microscópicas quaisquer) quando adentra um gaviãozinho (!!!) no laboratório por um pequeno vitrô... passarinho (tipo pardal) e morcego eu já vi entrar em laboratório, além dos inúmeros insetos, camundongos e tradicionais lagartixas de parede, mas gavião? E ainda por cima o bicho parecia manso... ou no mínimo desorientado. Ele encontrou uma janela aberta, planou até ela e... voltou para se aninhar em uma bandeja com meia dúzia de tampões feitos de gaze e algodão que são utilizadas para tampar (tampão = tampar) frascos ESTÉREIS (descontaminados!). Que bicho estranho, parece que preferiu ficar no laboratório a sair para a natureza selvagem. O dito cujo acabou sendo convidado a se retirar quando a bandeja onde estava foi levada para fora (ele nem se incomodou de ir de carona). Que eu saiba, não voltou ao laboratório, mas voltou para uma varanda próxima e parece querer ficar por aqui mesmo!

O gaviãozinho parece com este da foto, mas não sou especialista então não arrisco nenhuma tentativa de identificação taxonômica... vou consultar os ornitólogos de plantão para tentar descobrir qual é a espécie de gavião-de-laboratório. Este simpático penado da imagem acima chama-se Falco sparverius, popularmente conhecido como quiri-quiri. Soube que são especializados em caçar insetos (entre outras coisas), ainda bem que ao entrar no laboratório não atacou nossas preciosas amostras (umas moscas varejeiras que morreram pelo bem da ciência - alguém se importa que varejeiras morram?).

Enfim, fico na torcida para que o gaviãozinho encontre seu lugar ao sol (longe do laboratório) e para que as nossas extrações de DNA tenham funcionado e participem ainda de muitas dissertações, teses e artigos científicos!


quinta-feira, fevereiro 04, 2010

pão na chapa

Em 2010 faz 20 anos que ingressei na universidade, no curso de Ciências Biológicas da UNICAMP, turma 90!

Graças à internet, podemos manter contato, planejar encontros e trocar emails sobre concursos públicos (!) - por incrível que pareça este tema é recorrente nas nossas comunicações.

Mas eu queria mesmo era falar do pão na chapa. Na época em que estava na graduação esse era o pedido tradicional no "café da manhã" na cantina do Bello (cuja estrutura física não existe mais ao lado do prédio do IB, resta apenas na memória de quem por lá passou algumas - ou inúmeras - tardes agradáveis embaixo dos flamboyants - estudando, fazendo trabalhos em grupo ou tomando cerveja (!!!!!) é... isso mesmo, naquela época a cerveja e a universidade coexistiam - pasmem). Ah é, havia o truco (que eu nunca consegui aprender a jogar - uma falha na minha formação).

Voltando ao pão na chapa: hoje vivi um momento de nostalgia quando fui procurar uma papelaria em um local da cidade de Sorocaba chamado de "Largo do Divino". Apesar de estar em Sorocaba há ~2 anos, devo ter passado 95% do meu tempo no trecho casa-trabalho-casa, portanto ainda existe uma Sorocaba completamente inexplorada e desconhecida por mim. Há uma capela antiga muito simpática (que parece ter uns 140 anos) que é a alma do bairro, e a casa do "Divino", claro. E nas ruas do bairro tudo faz referência (ou reverência) ao Divino: Drogaria do Divino, Papelaria do Divino (era a que eu estava procurando), Lanches Divino (esses prometem...), e outros vários nomes com o mesmo "sufixo". É engraçado como isso gera uma "identidade visual" marcante, dá uma impressão que você entrou em outra dimensão... nessa dimensão tem uma padaria chamada... panicenter (não sei o que poderia ter acontecido com a padaria do Divino... ), onde comi um saudoso (veja bem, eu não disse saudável...) pão na chapa acompanhado de um pingado (ou café com leite).

Acabei fazendo este "link" acidental entre Sorocaba e meus idos anos da graduação, tudo por causa de um pão na chapa (será que existe alguém que nunca comeu um pão na chapa?). Mas assim aproveito para falar um pouco da cidade que abriga o novo campus da UFSCar que trouxe na carona professores e estudantes de várias regiões do Brasil. Sorocaba nunca mais será  a mesma, nem nós!

Em boa hora: parabéns aos formandos das primeiras turmas dos cursos de Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado) e Turismo! Que vocês ainda possam se encontrar nos próximos 10, 15 ou 20 anos para lembrar dos dias em que comiam pão na chapa num trailer improvisado (espero que estejam todos empregados nas datas acima mencionadas!).  

A postagem hoje só não mencionou que o pão com ovo também era outro sucesso da culinária da cantina do Bello! Mas esse assunto fica para outra oportunidade. Afinal este seria um blog científico, não gastronômico (muito menos de gastronomia universitária: pão com ovo, pão na chapa, miojo, bandeijão, cachorro-quente da tia Maria, etc.).

Bom início de ano