terça-feira, novembro 08, 2005

gênio ou ingênuo?

Sei que vocês não vão acreditar, mas vou arriscar assim mesmo: acho que a idéia que tive (sério, pensei nisso sozinha!) de realizar uma mini-entrevista com pesquisadores brasileiros no exterior revelando alguns "flashes" curiosos sobre expectativa e realidades conquistadas (originalmente uma idéia para não deixar a "II Semana Nacional de Ciência e Tecnologia" passar em branco) foi maquiada, ampliada e contextualizada pela Folha de SP no seu caderno MAIS! de Domingo (06/11/2005). Para agregar valor jornalístico, foram eleitos "gênios" ao invés de pesquisadores comuns (esclarecimento justo: ao menos um dos autores da reportagem - ML - considerou a posteriori que o termo "gênio" não "pegou bem") e compilada uma lista de "perfis" (o que deixa a coisa toda mais sofisticada), ao invés de um mini-questionário impessoal e mínimo. Me desculpem vocês que contribuíram aqui, mas a notícia da Folha, reproduzida no "blogue" do jornalista Marcelo Leite, teve mais IBOPE. Um dia a gente chega lá... primeiro será preciso a medalha de mérito da Nature (= ter uma publicação lá) ou da Science para poder ter passe na mídia. Não se enganem: acho que esses caras (ah é, tem que ser homem também) devem ser feras mesmo e sua contribuição deve ser reconhecida e aplaudida (é verdade!), mas vamos também relevar o importante papel da infra-estrutura Norte Americana de fazer pesquisa no sucesso destes jovens doutores do balacobaco (ah sim, tem que estar ou ter estado sob os gloriosos céus da terra prometida - EUA), para ampliarmos um pouco mais nossos horizontes e vislumbrarmos outros autores do processo de produção de geniosidades. Pensei que minha crise (oriunda de um certo constrangimento com alguns pontos da reportagem) tinha passado, mas vejo que ela é resistente (ô praga!) ... vou submeter um artiguinho para a Nature para ver se passa (a crise, porque o artigo ainda tá difícil, oxalá meu dia virá :) :) )... mas não deve ser antes dos 35 anos - em breve (ah é, tem que ser menor de 35). Eventuais gênios (improvável...) e humanos comuns (alguém, talvez?) que possam estar lendo este comentário, me desculpem pelo tom azedinho do "post", mas estou numa maratona de atividades sem precedentes e acho que preciso injetar células-tronco no cérebro (mas não daquelas contaminadas, como as descobriu o Alysson (um dos perfilados da Folha de SP), quero as que não foram tratadas com tripsina: as células-tronco ISO9000, que provavelmente serão descobertas nos EUA, com financiamento do NSF, publicadas na revista Nature por um líder de equipe do sexo masculino com menos de 35 anos, com formação acadêmico-científica e nacionalidade brasileiras! É isso aí! Sucesso aos perfís brasileiros, incluindo os da supra-citada reportagem, e criatividade e bom-senso ao jornalismo científico do Brasil, em especial ao da Folha SP, que merece reconhecimento e... algumas críticas também, construtivas, por que não?
Desculpem-me aqueles que não entenderam nadica-de-nada deste post-desabafo. Ufa! Chega de crise!

Quem dá mais?!

Incrível: li hoje no Jornal da Ciência sobre a compra e venda de teses que tem movimentado o mercado negro da academia. Uma tese pode render 2.000 reais para o autor-traficante e promover o status, a carreira e o salário do autor-laranja. Só falta conseguir promover também a auto-estima do sujeito (bem, remorso ou conflitos éticos esse pessoal não deve ter mesmo!). Se não fosse piada de mau-gosto, diria que o mercado para pós-graduandos e pós-docs está se ampliando e se diversificando... Peloamordedeus alguém faz alguma coisa: isso já é o fim da picada. Tese agora virou CNH, que se compra de despachantes obscuros?!?! Que frustrante... Nota ZERO!