quarta-feira, fevereiro 17, 2010

há cinco anos nascia o via gene...

"Parabéns prá você... nesta data querida..."

Aos trancos e barrancos da vida acadêmica, vai sobrevivendo com muita alegria e satisfação o blog via gene.

Comemoro nesta postagem seus 5 anos de vida! Apesar de estar longe dos "top 10" melhores blogs de ciência brasileiros, talvez o via gene possa se orgulhar de estar entre os 10 primeiros... em idade... :)

Enfim, o via precisa melhorar seus assuntos, sua regularidade, sua frequência de postagem (faltou alguma coisa?), mas não tem problemas com sua persistência (3 x 1)!

um abraço a todos que ainda prestigiam, visitam e comentam no via gene (foi um privilégio contar com vocês ao longo destes 5 anos),

ana claudia


terça-feira, fevereiro 16, 2010

ciência, academia e violência

Tiroteios em escolas e universidades são frequentemente noticiados na midia internacional, quase sempre ocorrendo nos Estados Unidos. Aí está o filme-documentário "Tiros em Columbine"do polêmico diretor e ativista político Michael Moore que não me deixa mentir. Claro que a realidade brasiliera também noticia - e com certa frequência - a ocorrência de tiroteios e mortes em escolas (uma amostra, outra amostra), normalmente motivadas por questões envolvendo tráfico de substâncias ilícitas e questões "territorias" envolvendo gangues formadas nas escolas ou mesmo fora delas.

Mesmo assim, considerando este "traço" da cultura americana (conforme a visão de Moore), sempre me surpreende uma notícia de violência explícita como ocorreu semana passada na Universidade do Alabama, EUA. Mais surpreendente porque os holofotes não focaram em adolescentes introspectivos, nem estrangeiros de comportamento anti-social, mas em uma docente e pesquisadora de ~40 anos de idade, com reconhecida capacidade científica, incluindo experiência acadêmica na famosa universidade de Harvard, prêmios científicos e sócia (junto com o marido) de uma empresa de biologia molecular e celular, uma neurocientista. Esta cientista, professora assistente de biologia, foi - armada (!) - a uma reunião com uma comissão formada por outros docentes da instituição para discutir sua permanência na universidade. Nos Estados Unidos, a sistemática de contratação de docentes pelas universidades inclui um longo período probatório (que pode chegar a até 10 anos, se não me engano) como professor assistente, ao término deste período o docente é avaliado com relação à sua produtividade em pesquisa, qualidade e esforço como docente e atuação em serviços (algo como aqui conhecemos por atividades de extensão). Caso esta avaliação indique que o docente atingiu (ou superou) as metas previstas, ele fará parte do quadro de docentes permanentes (passando de Professor Assistente para Professor Associado ou "Tenured Professor") da instituição, sendo garantida a - tão desejada - estabilidade no emprego*. Note-se que nas Universidades Federais brasileiras estes mesmos termos, Professor Assistente e Prof. Associado, não possuem a mesma definição adotada nos Estados Unidos (Assistente = com mestrado; Associado = livre-docente; entre os dois figura a posição do Adjunto = com doutorado); e o período de estágio probatório é de apenas 3 anos.

Voltando ao caso americano: durante a tal reunião, a professora que estava sendo avaliada realizou uma série de disparos matando 3 pessoas e ferindo outras 3 (uma em estado grave). Pela divulgação na mídia, a motivação do crime foi a resposta negativa da comissão avaliadora quanto à promoção da titulação acadêmica da solicitante, Dra. Amy Bishop. 

Muita informação está sendo apresentada sobre a personalidade de Amy Bishop, que era tida como extremamente arrogante (mas especula-se que era uma cientista brilhante e uma docente dedicada), sobre um episódio violento do seu passado (aos 20 anos ela foi considerada inocente pela morte do irmão, de 18, por ter disparado uma arma "acidentalmente"...) e sobre a possibilidade dela ser doente mental ou estar sob o efeito de anti-depressivos. O que inspirou este texto foi a postagem do blog Terra Sigillata, de Abel Pharmboy, UA Huntsville Dr. Amy Bishop holds active NIH R15 AREA award. Outro texto relacionado é o "post" mais recente Amy Bishop UAH case: What role should personality or collegiality play in tenure decisions? Ambos os textos estão repletos de comentários com opiniões e curiosidades sobre o sistema acadêmico norte-americano. Talvez um pouco distante da nossa realidade, mas vale a pena dar uma olhada, especialmente quando a violência traz como protagonistas professores de biologia.  

Um trecho extraído do blog de Abel Pharmboy em que ele cita uma entrevista com um professor de psicologia da Universidade do Alabama que foi publicada no jornal Decatur Daily:

"In today's Decatur Daily, staff writer Eric Fleischauer has an extended interview with UAH psychology professor Eric Seemann. You really should read the whole thing because it provides an inside view of Bishop's personality and relationships. But here is a critical passage:

Despite her excellent research ability, Seemann was not surprised she struggled to obtain tenure.

"Amy was kind of hard to get along with," he said. "I've talked to people who said, 'Wow, she can be really arrogant,' or be really headstrong. I knew that to be true. But at the same time she was brilliant. She was really one of UAH's rising research stars. People I know in biological sciences would say, 'She's a great researcher, but she's lousy to work with.' "

She was brilliant and she knew it.

"At one meeting I was with Amy, she was complaining to a group of us. She said she was denied tenure not because she was a lousy researcher -- she's not, quite the opposite -- and not because she didn't have good classes, she believed she did -- I think some might say otherwise -- but because she was accused of being arrogant, aloof and superior. And she said, 'I am.' "


É ou não é de deixar qualquer um perplexo?

abraços aos eventuais leitores de todas as horas,

ana claudia

* Richard Dawkins na obra "A grande história da evolução" comenta que haveria uma "degeneração" das estruturas cerebrais de alguns acadêmicos durante o desenvolvimento que se segue ao contrato permanente (ou efetivação). pg. 432 da edição em português da Cia das Letras :)  

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Vôo improvável...

Nota curiosa do cotidiano de um laboratório de genética molecular:

Hoje estávamos (eu e meus alunos) dedicados a fazer uma extração de DNA para testar um novo protocolo experimental. Eu falando da importância de realizar esse procedimento em um ambiente limpo e livre de "n" possíveis comtaminações para que a extração do DNA das nossas amostras fosse bem-sucedida e assim todos os outros procedimentos de genética molecular que se seguem a uma extração.

Nestas análises, o controle do que está acontecendo no ambiente "macro" (luvas, tubos, reagentes, gelo, centrífugas, pinças, ponteiras, micropipetas, etc.) é fundamental para tentarmos saber o que pode estar acontecendo no ambiente "micro" (as interações moleculares dentro de um tubinho com capacidade máxima para 1ml e meio - esse é o nosso MAIOR tubo!).

Então, lá estava eu nessa conversa toda, cheia de controles (todas as janelas e portas fechadas - nesse calor ABSURDO que anda fazendo - para evitar as tais possibilidades de contaminação do nosso ambiente de trabalho por sujeiras microscópicas quaisquer) quando adentra um gaviãozinho (!!!) no laboratório por um pequeno vitrô... passarinho (tipo pardal) e morcego eu já vi entrar em laboratório, além dos inúmeros insetos, camundongos e tradicionais lagartixas de parede, mas gavião? E ainda por cima o bicho parecia manso... ou no mínimo desorientado. Ele encontrou uma janela aberta, planou até ela e... voltou para se aninhar em uma bandeja com meia dúzia de tampões feitos de gaze e algodão que são utilizadas para tampar (tampão = tampar) frascos ESTÉREIS (descontaminados!). Que bicho estranho, parece que preferiu ficar no laboratório a sair para a natureza selvagem. O dito cujo acabou sendo convidado a se retirar quando a bandeja onde estava foi levada para fora (ele nem se incomodou de ir de carona). Que eu saiba, não voltou ao laboratório, mas voltou para uma varanda próxima e parece querer ficar por aqui mesmo!

O gaviãozinho parece com este da foto, mas não sou especialista então não arrisco nenhuma tentativa de identificação taxonômica... vou consultar os ornitólogos de plantão para tentar descobrir qual é a espécie de gavião-de-laboratório. Este simpático penado da imagem acima chama-se Falco sparverius, popularmente conhecido como quiri-quiri. Soube que são especializados em caçar insetos (entre outras coisas), ainda bem que ao entrar no laboratório não atacou nossas preciosas amostras (umas moscas varejeiras que morreram pelo bem da ciência - alguém se importa que varejeiras morram?).

Enfim, fico na torcida para que o gaviãozinho encontre seu lugar ao sol (longe do laboratório) e para que as nossas extrações de DNA tenham funcionado e participem ainda de muitas dissertações, teses e artigos científicos!


quinta-feira, fevereiro 04, 2010

pão na chapa

Em 2010 faz 20 anos que ingressei na universidade, no curso de Ciências Biológicas da UNICAMP, turma 90!

Graças à internet, podemos manter contato, planejar encontros e trocar emails sobre concursos públicos (!) - por incrível que pareça este tema é recorrente nas nossas comunicações.

Mas eu queria mesmo era falar do pão na chapa. Na época em que estava na graduação esse era o pedido tradicional no "café da manhã" na cantina do Bello (cuja estrutura física não existe mais ao lado do prédio do IB, resta apenas na memória de quem por lá passou algumas - ou inúmeras - tardes agradáveis embaixo dos flamboyants - estudando, fazendo trabalhos em grupo ou tomando cerveja (!!!!!) é... isso mesmo, naquela época a cerveja e a universidade coexistiam - pasmem). Ah é, havia o truco (que eu nunca consegui aprender a jogar - uma falha na minha formação).

Voltando ao pão na chapa: hoje vivi um momento de nostalgia quando fui procurar uma papelaria em um local da cidade de Sorocaba chamado de "Largo do Divino". Apesar de estar em Sorocaba há ~2 anos, devo ter passado 95% do meu tempo no trecho casa-trabalho-casa, portanto ainda existe uma Sorocaba completamente inexplorada e desconhecida por mim. Há uma capela antiga muito simpática (que parece ter uns 140 anos) que é a alma do bairro, e a casa do "Divino", claro. E nas ruas do bairro tudo faz referência (ou reverência) ao Divino: Drogaria do Divino, Papelaria do Divino (era a que eu estava procurando), Lanches Divino (esses prometem...), e outros vários nomes com o mesmo "sufixo". É engraçado como isso gera uma "identidade visual" marcante, dá uma impressão que você entrou em outra dimensão... nessa dimensão tem uma padaria chamada... panicenter (não sei o que poderia ter acontecido com a padaria do Divino... ), onde comi um saudoso (veja bem, eu não disse saudável...) pão na chapa acompanhado de um pingado (ou café com leite).

Acabei fazendo este "link" acidental entre Sorocaba e meus idos anos da graduação, tudo por causa de um pão na chapa (será que existe alguém que nunca comeu um pão na chapa?). Mas assim aproveito para falar um pouco da cidade que abriga o novo campus da UFSCar que trouxe na carona professores e estudantes de várias regiões do Brasil. Sorocaba nunca mais será  a mesma, nem nós!

Em boa hora: parabéns aos formandos das primeiras turmas dos cursos de Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado) e Turismo! Que vocês ainda possam se encontrar nos próximos 10, 15 ou 20 anos para lembrar dos dias em que comiam pão na chapa num trailer improvisado (espero que estejam todos empregados nas datas acima mencionadas!).  

A postagem hoje só não mencionou que o pão com ovo também era outro sucesso da culinária da cantina do Bello! Mas esse assunto fica para outra oportunidade. Afinal este seria um blog científico, não gastronômico (muito menos de gastronomia universitária: pão com ovo, pão na chapa, miojo, bandeijão, cachorro-quente da tia Maria, etc.).

Bom início de ano