segunda-feira, setembro 24, 2007

Sobre jornalistas e geneticistas na Nature Reviews Genetics

a última edição do periódico científico "Nature Reviews Genetics" traz uma publicação interessante sobre a comunicação entre jornalistas e geneticistas (seção Perspectives, ou aqui para quem tem acesso à revista). O título do artigo é "How geneticists can help reporters to get their story right" por Celeste Condit (Departament of Speech Communication, University of Georgia). Segundo a autora, este artigo visa explicar aos geneticistas as forças que moldam o noticiário científico, de forma a minimizar os problemas mais comuns: "Hype" (sensacionalismo científico), determinismo genético e discriminação. Parte do problema parece ser devido ao chamado "hype-space conflict", onde o jornalista tem que lidar com o conflito de usar o pouco espaço que tem apresentando ou 1) um conteúdo mais "chamativo" e "promocional" ou 2) mais informativo, descritivo e imparcial. Além disso, o artigo discute também a questão de reportagens que refletem tendências pessoais do jornalista, independente do conteúdo científico propriamente dito. Muito do artigo baseia-se na divulgação das idéias sobre determinismo genético e sobre raças humanas. O artigo conclui com uma pergunta:

"Grounds for hope arise from the willingness of many journalists to improve their ability to communicate about genetics in an effective fashion. Should geneticists themselves do any less?"

Nota de uma geneticista: concordo que temos que fazer a nossa parte no que diz respeito à divulgação científica "além da academia". Mas é importante notar que a sociedade espera que o geneticista comunique/divulgue ciência primordialmente através da publicação de artigos científicos (ao menos essa atividade é rotineiramente avaliada e exigida de um pesquisador). Deste ponto de vista, o geneticista tem que investir energia em 2 tarefas: comunicação para público especializado e comunicação para o público leigo. Provocação: quem tem que se esforçar mais? Na minha opinião, ainda é o jornalista, já que esta é sua atividade primordial, ou não é?


4 comentários:

João Carlos disse...

Topando sua provocação:

Em primeiro lugar, eu gostaria de observar que as próprias publicações científicas sérias, como a Nature por exemplo, também são danadas para dar manchetes hyped.

Em segundo, vem a pergunta: a que classe de jornalistas você está se referindo?... No meu fraco entender, o único tipo de jornalista capaz de equilibrar a necessidade de chamar a atenção do público com uma apreciação abalizada do conteúdo da notícia, é o cientista que se torna jornalista; ou seja, a formação científica vem antes da formação jornalística.

Só que um cientista raramente se torna um divulgador... Provavelmente porque o trabalho de pesquisa tende a ocupar a maior parte de seu tempo e a tendência de se "encastelar" no jargão de seu círculo é apenas de se esperar. E ainda existe o enorme problema de "traduzir" para uma linguagem acessível conceitos que até cientistas, por vezes, têm dificuldades em compreender.

Shridhar Jayanthi disse...

Acho que a questão toda se resume a uma questão de mercado mesmo. O interesse do jornalista é de escrever matérias interessantes e o do cientista é de atrair verba. A intersecção é bem grande, mas existem casos onde o geneticista (cientista) é obrigado a hypear o que ele faz e o jornalista é obrigado e extrapolar um resultado menor para ter matéria vendável...

João Carlos disse...

Shridhar:

Essa discussão está me levando a crer que uma futura especialização em "maketing científico" seria mais do que um dito jocoso... Provavelmente há um "nicho econômico" promissor.

Maria Guimarães disse...

shridhar, acho que o cientista que põe frases de efeito no pedido de verba é um pouquinho desonesto - mas nada muito grave desde que não seja transferida para os artigos que resultarão do financiamento.
já o jornalista que aumenta uma história para vender é de uma desonestidade inadmissível.

ana, tem uma forma de investir em divulgação que a maior parte dos pesquisadores ainda ignora: é entrar em contato com jornalistas para avisar de algo importante ou explicar o seu trabalho mais recente. aqui na Pesquisa Fapesp volta e meia recebemos dicas de pesquisadores, mas ainda é pouco.
quando um jornalista te ligar para divulgar sua pesquisa, lembre que ele não é geneticista e que você deve explicar com cuidado para evitar mal-entendidos que possam levar ao sensacionalismo.
obrigada pela dica, vou olhar o artigo.