Contribuição de Agosto do Via Gene ao Roda de Ciência (ver nota aqui):
Ainda estamos em Agosto... então aqui estão algumas impressões sobre o tema do mês.
Desde a iniciação científica, no início da década de 90, tenho formulado uma idéia – mais ou menos flexível – do que é a Ciência (fica a inicial maiúscula como reconhecimento do fascínio que esta palavra evoca em mim): um campo de intensa experimentação teórica e prática, calcado no raciocínio lógico, na argumentação sobre fatos, observações de causa e efeito, elaboração e teste de hipóteses explicativas, embebido na criatividade e na liberdade à formulação de idéias, cuja orientação mais ampla (ou seria presunção?) é a compreensão da Natureza, de como ela opera e de como pode ser explorada (ainda mais presunçoso, não?). Além da formação de novas idéias, há neste fenômeno humano de “fazer ciência” a formação de pessoas, recursos humanos capacitados para pensar e agir cientificamente, o que é algo ainda mais fantástico! Concordo com a Lúcia Malla que esta é uma questão CENTRAL.
Neste ponto surge a educação científica e o ensino de ciências neste breve divagar...
Imagino que o ensino de ciências possa servir como uma “ponte” para me ajudar a desenvolver alguma idéia com relação ao que entendo como Divulgação Científica (já adianto que não entendo nada... mas não deixo de me entusiasmar com a idéia de que ainda posso aprender uma ou duas coisas) .
Ciência, ensino e divulgação são diferentes em conceito e forma, mas como irmãs/irmãos, pertencem a uma mesma família, compartilham valores e co-evoluem, aprendendo umas com as outras. Será que a Ciência serve aos cientistas, o ensino aos estudantes e a divulgação aos leigos? Então: cientista pesquisa, professor ensina e jornalista informa? Seria então algo como: a “produção” de conhecimento – a “transmissão” de conhecimento – a “generalização/popularização” do conhecimento? E, às vezes, tem-se a impressão que esses conceitos são estáticos, dinâmica = zero... Mas, e se o cientista se desafiasse a divulgar?! E se o professor se aventurasse na pesquisa científica e o jornalista experimentasse a veia do ensino de ciências?! Subversivo, não? Ou seria inovador? Um sopro de liberdade em prol do todo científico?
Tudo bem que nem todo cientista tem “talento” para atuar como divulgador ou educador, e ainda há uma “tendência” – dentro do ambiente acadêmico – a uma super-valorização do cientista estritamente (ou deveria dizer “estreitamente”?) pesquisador, que gerencia seu tempo e esforço para total dedicação à produção de dados experimentais e redação de artigos científicos (que são os atuais “eleitos” como credencial para qualificar o cientista – se isso é bom ou ruim é outra discussão, mas é fato). Desviar-se para uma atividade de ensino ou divulgação enfrenta alguma resistência (para dizer o mínimo), como toda atividade/atitude romântica.
É nesse sentido que vejo a necessidade de estabelecer mais linhas de COMUNICAÇÃO entre ciência e divulgação científica: seja o pesquisador dedicar-se, também, para a “popularização” da ciência (algo mais “home-made”, “do-it-yourself” – como esse “blog”, por exemplo) ou ampliar sua interação com a mídia especializada, como consultor, crítico, comentador “free-lance”, etc. Alguém falou da questão do exibicionismo, o tipo “James Watson” de publicidade científica... acho complexo isso, pois é preciso uma certa dose de “exibicionismo” – ou vaidade, que seja - para tolerar a exposição pública e irrestrita. Então exibicionismo não é necessariamente ruim – acho que alguém também comentou sobre isso nessa discussão temática de Agosto, não? Seja como for, a imagem do cientista como criatura distante da realidade mundana, incomunicável (alguém mencionou a visão do conhecimento científico como hermético) e acima do bem-e-do-mal (cujas “verdade” não são questionadas – também comentado anteriormente) precisa de uma reformulação urgente! A comunicação mais dinâmica, promovendo uma interatividade democrática (poderia ser anárquica?) com diversidade de opiniões e idéias é uma realidade possível (como exemplifica o Roda de Ciência), que me entusiasma.
A inovação na comunicação é necessária, uma vez que congressos científicos e eventos formais (onde há extensa e intensa apresentação de trabalhos e divulgação de conhecimentos científicos) ainda são fóruns de participação “privilegiada”, um clube de cientistas. Mas, mesmo estes eventos, vez por outra experimentam (afinal é da natureza primária do cientista experimentar) ou se aventuram no espaço da divulgação e do ensino: vide exemplo da minha área específica que integra a programação do Congresso Brasileiro de Genética da SBG – o Genética na Praça**, onde a “academia” abre espaço para a participação de professores, estudantes e comunidade em geral. Pode ser tímida ainda a manifestação de iniciativas desta natureza, mas há espaço e tempo para que evoluam.
Enfim o comentário que se pretendia breve, foi extenso e, nem por isso, amostrou propriamente as diversas reflexões e questões pontuais que vão se formando na minha – por vezes confusa – cabeça. Nada aqui se pretende absoluto ou final, são apenas idéias – me desculpo desde já se desconexas ou mal-apresentadas – que me ocorrem sobre o tema. Depois de um período “incubada” com pendências e compromissos urgentes da vida – estritamente – científica e acadêmica, me restabeleço com o ideal do pesquisador/educador/divulgador de ciência que vislumbro com admiração, e ofereço esta contribuição ao Roda.
ana claudia
Ainda estamos em Agosto... então aqui estão algumas impressões sobre o tema do mês.
Desde a iniciação científica, no início da década de 90, tenho formulado uma idéia – mais ou menos flexível – do que é a Ciência (fica a inicial maiúscula como reconhecimento do fascínio que esta palavra evoca em mim): um campo de intensa experimentação teórica e prática, calcado no raciocínio lógico, na argumentação sobre fatos, observações de causa e efeito, elaboração e teste de hipóteses explicativas, embebido na criatividade e na liberdade à formulação de idéias, cuja orientação mais ampla (ou seria presunção?) é a compreensão da Natureza, de como ela opera e de como pode ser explorada (ainda mais presunçoso, não?). Além da formação de novas idéias, há neste fenômeno humano de “fazer ciência” a formação de pessoas, recursos humanos capacitados para pensar e agir cientificamente, o que é algo ainda mais fantástico! Concordo com a Lúcia Malla que esta é uma questão CENTRAL.
Neste ponto surge a educação científica e o ensino de ciências neste breve divagar...
Imagino que o ensino de ciências possa servir como uma “ponte” para me ajudar a desenvolver alguma idéia com relação ao que entendo como Divulgação Científica (já adianto que não entendo nada... mas não deixo de me entusiasmar com a idéia de que ainda posso aprender uma ou duas coisas) .
Ciência, ensino e divulgação são diferentes em conceito e forma, mas como irmãs/irmãos, pertencem a uma mesma família, compartilham valores e co-evoluem, aprendendo umas com as outras. Será que a Ciência serve aos cientistas, o ensino aos estudantes e a divulgação aos leigos? Então: cientista pesquisa, professor ensina e jornalista informa? Seria então algo como: a “produção” de conhecimento – a “transmissão” de conhecimento – a “generalização/popularização” do conhecimento? E, às vezes, tem-se a impressão que esses conceitos são estáticos, dinâmica = zero... Mas, e se o cientista se desafiasse a divulgar?! E se o professor se aventurasse na pesquisa científica e o jornalista experimentasse a veia do ensino de ciências?! Subversivo, não? Ou seria inovador? Um sopro de liberdade em prol do todo científico?
Tudo bem que nem todo cientista tem “talento” para atuar como divulgador ou educador, e ainda há uma “tendência” – dentro do ambiente acadêmico – a uma super-valorização do cientista estritamente (ou deveria dizer “estreitamente”?) pesquisador, que gerencia seu tempo e esforço para total dedicação à produção de dados experimentais e redação de artigos científicos (que são os atuais “eleitos” como credencial para qualificar o cientista – se isso é bom ou ruim é outra discussão, mas é fato). Desviar-se para uma atividade de ensino ou divulgação enfrenta alguma resistência (para dizer o mínimo), como toda atividade/atitude romântica.
É nesse sentido que vejo a necessidade de estabelecer mais linhas de COMUNICAÇÃO entre ciência e divulgação científica: seja o pesquisador dedicar-se, também, para a “popularização” da ciência (algo mais “home-made”, “do-it-yourself” – como esse “blog”, por exemplo) ou ampliar sua interação com a mídia especializada, como consultor, crítico, comentador “free-lance”, etc. Alguém falou da questão do exibicionismo, o tipo “James Watson” de publicidade científica... acho complexo isso, pois é preciso uma certa dose de “exibicionismo” – ou vaidade, que seja - para tolerar a exposição pública e irrestrita. Então exibicionismo não é necessariamente ruim – acho que alguém também comentou sobre isso nessa discussão temática de Agosto, não? Seja como for, a imagem do cientista como criatura distante da realidade mundana, incomunicável (alguém mencionou a visão do conhecimento científico como hermético) e acima do bem-e-do-mal (cujas “verdade” não são questionadas – também comentado anteriormente) precisa de uma reformulação urgente! A comunicação mais dinâmica, promovendo uma interatividade democrática (poderia ser anárquica?) com diversidade de opiniões e idéias é uma realidade possível (como exemplifica o Roda de Ciência), que me entusiasma.
A inovação na comunicação é necessária, uma vez que congressos científicos e eventos formais (onde há extensa e intensa apresentação de trabalhos e divulgação de conhecimentos científicos) ainda são fóruns de participação “privilegiada”, um clube de cientistas. Mas, mesmo estes eventos, vez por outra experimentam (afinal é da natureza primária do cientista experimentar) ou se aventuram no espaço da divulgação e do ensino: vide exemplo da minha área específica que integra a programação do Congresso Brasileiro de Genética da SBG – o Genética na Praça**, onde a “academia” abre espaço para a participação de professores, estudantes e comunidade em geral. Pode ser tímida ainda a manifestação de iniciativas desta natureza, mas há espaço e tempo para que evoluam.
Enfim o comentário que se pretendia breve, foi extenso e, nem por isso, amostrou propriamente as diversas reflexões e questões pontuais que vão se formando na minha – por vezes confusa – cabeça. Nada aqui se pretende absoluto ou final, são apenas idéias – me desculpo desde já se desconexas ou mal-apresentadas – que me ocorrem sobre o tema. Depois de um período “incubada” com pendências e compromissos urgentes da vida – estritamente – científica e acadêmica, me restabeleço com o ideal do pesquisador/educador/divulgador de ciência que vislumbro com admiração, e ofereço esta contribuição ao Roda.
ana claudia
**posso estar enganada, mas não encontrei nenhum "link" para o "Genética na Praça" na programação deste ano do Congresso Brasileiro de Genética, é possível que tenha saído da "estrutura" do evento... o que seria uma pena e invalida parte do meu comentário (ao menos a "propaganda" sobre o que a SBG estaria fazendo em prol do ensino e educação em Genética...). Mas para compensar: achei uma iniciativa curiosa chamada Genética na Escola, vale a pena conferir e reabilita a SBG.
obs: por favor incluir eventuais comentários aqui.
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