sábado, abril 21, 2012

genética e moral

Muito interessante a matéria do colunista do Jornal Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman publicada em 17 de abril (ver aqui) intitulada "Problemas Morais". 

Logo de cara são apresentadas 3 historietas que ferem nossos tabus e nos provocam a decidir se determinadas situações são certas ou erradas, trazendo algum constrangimento ao nosso "sujeito moral" que se debate com nossa racionalidade. Refletindo: se não sabemos discernir o certo do errado, nossa existência ética pode estar comprometida (paro por aqui antes de cometer alguma violação conceitual no universo teórico da filosofia - o que não seria difícil).

A seguir o colunista apresenta algumas idéias desenvolvidas pelo psicólogo Jonathan Haidt no livro "The Righteous Mind: Why Good People Are Divided by Politics and Religion" (a mente do justo: por que pessoas boas não se entendem em política e religião), ver vídeo aqui.

Segundo Schwartsman, o autor (Haidt) argumenta que a construção do senso moral do indivíduo determina seu olhar sobre o mundo, levando às visões que reconhecemos como conservadoras, liberais e neutras: o senso moral "pode ser decomposto em seis sentimentos básicos: proteção, justiça, liberdade, lealdade, autoridade e santidade (pureza), que constituiriam uma espécie de tabela periódica do instinto moral. O mapa ético de cada indivíduo seria uma combinação de diferentes proporções desses "ingredientes"".

Agora, o que chamou mais a minha atenção (e preciso averiguar as referências originais para apresentá-las a vocês - estas referêncais não estão apresentadas na coluna) foi o trecho abaixo:
"Para tornar as coisas ainda um pouquinho mais difíceis, cada indivíduo tem o "mix" de intuições que tem (e que faz dele conservador, liberal ou centrista) menos por causa de interesses escusos e opções ideológicas e mais por causa da genética. Estudos com gêmeos e adotados mostram que algo entre 33% e 50% das atitudes políticas de um indivíduo são determinadas por genes"

Determinação genética de comportamento político - será? Isso me lembra um filme (trailer) do Woody Allen com uma situação hilária - como apenas W. Allen sabe construir - apresentando uma família inteiramente democrata, exceto por um filho adolescente republicano (atribui-se este "desvio" a uma pancada que o indivíduo levou na cabeça...). Ao final do filme, após nova pancada, a criatura republicana retorna ao seu estado original (possivelmente atrelada a sua porcentagem de determinantes genéticos, se a informação do parágrafo anterior procede). Nome do filme: "Todos dizem eu te amo" de 1996; ótimo elenco!

Enfim, sugiro a leitura do texto do H. Schwartsman para refletirmos sobre isso e lembrarmos de buscar outras interfaces de diálogo (em temáticas como futebol*, arte, educação, etc.) se quisermos estabelecer uma via de comunicação com nossos contemporâneos, com quem compartilhamos um breve e intenso período de vida neste planeta e dos quais precisamos para saciar nossa necessidade de interação social.

Afinal, concordo com a opinião apresentada: "Como cada grupo fala idiomas diferentes (embora os conservadores arranhem um liberalês, muito a contragosto), estamos fadados a não nos entender. Pensamos e sentimos sob parâmetros diferentes. Isso significa que o debate raramente será produtivo. Apenas em casos excepcionais os argumentos de um lado levarão um legítimo representante do outro a mudar de ideia. No fundo, as discussões servem mais para que bons debatedores possam exibir suas virtudes lógico-oratórias a membros de seu próprio grupo."

Finalizando, deixo uma última cena em que Haidt nos remete aos primórdios da história do homem (mas que muitas vezes me parece muito mais familiar e cotidiana do que eu gostaria):

"Ali, cada membro do bando era, ao mesmo tempo, um aliado indispensável e um concorrente impiedoso"

Enfim, leitura imperdível! 
*nem sempre futebol será uma temática unificadora, dependerá do time em foco!

2 comentários:

João Carlos disse...

Estou intuindo que nosso pesquisador cometeu um erro primário: confundiu "meio cultural" com "predisposição genética".

via gene disse...

Então... fiquei de verificar a origem dessa informação (desculpe trazer a coisa tão "crua", mas não resisti a já iniciar essa conversa e esta polêmica). O que me deixou intrigada foram as porcentagens... normalmente os erros primários são absolutos! :) Assim que encontrar isso trago aqui para conhecimento :)
Que rápido seu comentário! E obrigada!
ana