quinta-feira, setembro 15, 2005

Harry e o mundo (não determinista) de Mendel...

Ingenuamente pensei que a inclusão, pela revista Nature, de um comentário sobre analogias entre os princípios de Mendel e as histórias de Harry Potter (comentado anteriormente neste blog sob o título "Harry Potter e o mundo de Mendel") fosse muita "divulgação" (afinal o Indice de Impacto da Nature é 32,182) para apenas uma curiosa circunstância... enfim, ao que tudo indica eu estava enganada:

Fato é que foi publicada esta semana uma réplica (Nature 437, 318 doi: 10.1038/437318d) entitulada: "Harry Potter and the prisoner of presumption" de Antony N. Dodd, Carlos T. Hotta & Michael J. Gardner (cientistas de Cambridge!) mostrando que o assunto é mais polêmico e de interesse mais amplo do que eu imaginei. Estes autores afirmam: "We believe the assumption that wizarding has a genetic basis to be deterministic and unsupported by available evidence", ou seja: "acreditamos que a suposição de que a habilidade bruxesca tem base genética é determinista e não é apoiada pelas evidências disponíveis" (tradução livre).

E eu aqui trabalhando com moscas... seja como for, a crítica ao determinismo genético (vigorosamente empunhada pelo jornalista Marcelo Leite, ver blog Ciência em Dia) também faz parte do mundo de Harry afinal.

Nota: sobre o índice de impacto de revistas científicas, devo esclarecer que o valor 32 atribuído à Nature é calculado com base no número de citações dos artigos desta revista (indiretamente poderia-se extrapolar que o índice de impacto reflete, em parte, a contribuição dos artigos publicados pela revista na produção de conhecimento científico). Dentre as revistas científicas brasileiras, por exemplo, apenas uma (a Journal of the Brazilian Chemical Society) tem índice de impacto maior do que, pasmem, 1 (um, isso mesmo). O índice de impacto desta revista é de 1,161 (qual havia sido o seu palpite?) .

3 comentários:

Adilson J A de Oliveira disse...

Cara Ana Claída,
Gostei muito do seu blog e vou recomendá-lo
Quanto a matéria sobre o Harry Potter, me fez lembrar também dos muitos super-heróis que aprecem em filmes e histórias em quadrinhos que a genética determina os superpoderes. O caso de herança genética que chama atenção é o HULK (no filme e não no gibi) herdou do pai características genéticas que posteriormente foram ativadas pela radiação.
Se der, dê um pulo no meu blog:
www.blogspot.pordentrodaciencia.com
Abraços
Adilson

via gene disse...

Adilson, obrigada pelo comentário.

Pois é... isso de atribuir à genética a condição do indivíduo manifestar super-poderes virou moda nos quadrinhos e na ficção-científica (antes da genética foi a química com suas poções mágicas -vide Jekyll & Hyde e Asterix - e a "sua" física, pelos efeitos de substâncias radioativas - o homem-aranha vem daí também, ou estou enganada?).

Usar argumentos científicos e super-estimar o poder da ciência é uma tentação... mas agora que "desvendaram" os genomas do humano e do chimpanzé e encontraram 99,6% de identidade genética, acho que o apelo genético vai ser substituído pela robótica e inteligência artificial como fonte de poder.

Acrescentando ainda uma observação fantasiosa: no "Episode I" de Guerra nas Estrelas a explicação para o potencial jedi de Anakin me pareceu ter base na Biologia Celular: devido à presença de uma certa estrutura celular ou sub-celular (ao menos foi isso que me pareceu) em grande quantidade no sangue do garoto. Não minha opinião isso deve ter algo a ver com a mitocôndria - mas aí já é puxar a sardinha para o meu lado :).

Sim, já tinha visto seu blog - que é muito interessante - quando acessei os links do blog do Marcelo Leite. Parabéns pela iniciativa!

ana

Roberto disse...

Oi Ana,
Sobre o índice de impacto das revistas brasileiras, neste ano o Journal of the Brazilian Chemical Society comemora 20 anos, com um fator de impacto acima de 1,5. Talvez fosse legal comentar este feito, fruto de muito esforço, trabalho e rigor dos editores desta revista (veja o editorial do número 1 deste ano em http://jbcs.sbq.org.br/jbcs/2009/vol20_n1/00b-editorial_20-1.pdf).
abraços,
Roberto.