Esse é outro tema interessante para discussão. Eu não queria me prolongar desta vez, mas queria atentar para uma oportunidade de reflexão sobre nosso papel como pesquisadores em genética no Brasil.
Todo ano, na época da inscrição e submissão de resumos para o Congresso Nacional de Genética, surge para o aluno e/ou estagiário de um laboratório de genética a oportunidade de decidir participar ou não deste evento científico nacional (um grande evento, diga-se de passagem, em números de participantes e diversidade de temas abordados).
O valor da taxa de inscrição deixa clara a escolha: X para sócios, X+Y para não-sócios (sendo que Y pode realmente ser uma adição desanimadora). É aí onde mais concretamente se comprova o benefício de ser sócio da SBG. Mas ser sócio não requer apenas vontade e um cadastro, concretiza-se também no pagamento regular de anuidades. E logo vem a pergunta de alguns: que interesse tenho eu em ser sócia da SBG? O que eu ganho com isso?
Ao que parece, o desconto na taxa de inscrição e a possibilidade de receber os volumes da revista "Genetics and Molecular Biology" (benefícios diretos) parecem não ser suficientes a ponto de promover a congregação de novos sócios. O que resta então?
Fugindo do formato "o que a SBG pode fazer por mim" e optando pelo formato "o que eu posso fazer pela SBG" (desculpem-me pela alusão a um chavão Norte-Americano de conotação bélica, mas veio a calhar), tavlez encontremos algumas respostas para essas dúvidas.
Voltando ao aspecto "viva intensamente suas escolhas", acredito que o compromisso com a produção de conhecimento (financiado por agências nacionais e executado em universidades públicas - principalmente - num país onde gastar $$ com ciência é quase considerado luxo... infelizmente) envolve apoiar e participar das nossas sociedades científicas pela simples razão - ideológica - de acreditar que elas servem para alguma coisa além da organização dos congressos anuais (que também devem ser prestigiados por princípio, pelas mesmas razões comentadas em um "post" anterior sobre participação em seminários).
Sem querer promover um discurso militante, mas sem fugir também de valores que considero importantes, a organização em sociedades é a esperança de ter voz, num país em que o cientista tem que gritar para ter espaço. Acho quase uma questão de responsabilidade cívica prestigiar a SBG e contribuir para que ela corresponda cada vez mais às nossas expectativas de uma organização atuante e integrada com sua "base". Este tipo de reflexão também diz respeito ao cadastro no CRB (Conselho Regional de Biologia), mas isso fica para a próxima.
desculpem-me, acabei me prolongando...
Todo ano, na época da inscrição e submissão de resumos para o Congresso Nacional de Genética, surge para o aluno e/ou estagiário de um laboratório de genética a oportunidade de decidir participar ou não deste evento científico nacional (um grande evento, diga-se de passagem, em números de participantes e diversidade de temas abordados).
O valor da taxa de inscrição deixa clara a escolha: X para sócios, X+Y para não-sócios (sendo que Y pode realmente ser uma adição desanimadora). É aí onde mais concretamente se comprova o benefício de ser sócio da SBG. Mas ser sócio não requer apenas vontade e um cadastro, concretiza-se também no pagamento regular de anuidades. E logo vem a pergunta de alguns: que interesse tenho eu em ser sócia da SBG? O que eu ganho com isso?
Ao que parece, o desconto na taxa de inscrição e a possibilidade de receber os volumes da revista "Genetics and Molecular Biology" (benefícios diretos) parecem não ser suficientes a ponto de promover a congregação de novos sócios. O que resta então?
Fugindo do formato "o que a SBG pode fazer por mim" e optando pelo formato "o que eu posso fazer pela SBG" (desculpem-me pela alusão a um chavão Norte-Americano de conotação bélica, mas veio a calhar), tavlez encontremos algumas respostas para essas dúvidas.
Voltando ao aspecto "viva intensamente suas escolhas", acredito que o compromisso com a produção de conhecimento (financiado por agências nacionais e executado em universidades públicas - principalmente - num país onde gastar $$ com ciência é quase considerado luxo... infelizmente) envolve apoiar e participar das nossas sociedades científicas pela simples razão - ideológica - de acreditar que elas servem para alguma coisa além da organização dos congressos anuais (que também devem ser prestigiados por princípio, pelas mesmas razões comentadas em um "post" anterior sobre participação em seminários).
Sem querer promover um discurso militante, mas sem fugir também de valores que considero importantes, a organização em sociedades é a esperança de ter voz, num país em que o cientista tem que gritar para ter espaço. Acho quase uma questão de responsabilidade cívica prestigiar a SBG e contribuir para que ela corresponda cada vez mais às nossas expectativas de uma organização atuante e integrada com sua "base". Este tipo de reflexão também diz respeito ao cadastro no CRB (Conselho Regional de Biologia), mas isso fica para a próxima.
desculpem-me, acabei me prolongando...
4 comentários:
Ola Ana. Gostaria de parabenizar pelo blog. Realmente não temos muitas oportunidades de discutir ciencia de uma maneira mais informal. A este respeito, quero manifestar a minha discordancia com a cobrança de inscrições em congressos em Geral, não so da SBG. Acho que as sociedades deveriam cobrar apenas daqueles que estão expondo os seu trabalhos e os que querem ou que presicam de certificados de participação. Cobrar do cidadão leigo ou não, que quer assistir a conferencias ou debates não me parece muito correto, principalmente porque grande parte do dinheiro utilizado para a organização destes congressos sai de agencias publicas de fomento e portanto dinheiro do povo. O que voce acha disso?
Paulo Ferreira
Caro Paulo,
Obrigada pela manifestação. Não tenho os números (vou tentar obter), mas imagino que grande parte dos participantes de congressos ou encontros científicos apresentam trabalhos e querem os certificados (nada mais justo). Quanto ao leigo, tenho uma opinião diferente da sua. Longe de querer bancar a elitista, mas esses congressos não têm muito ambiente para o leigo, seminários, mesas redondas e conferências são orientadas para um público específico, normalmente comprometido com o estudo dos temas abordados (bem, depende de como você define "leigo", enfim). Eu acredito que a existência de uma sociedade organizada é uma conquista por si só, que deve ser reconhecida e preservada, se o preço for uma anuidade de R$ 120,00 acho que o custo é baixo em relação ao benefício. Quanto a invocar a questão "dinheiro do povo", me parece um pouco de ingenuidade querer encontrar aí um motivo para não pagar inscrição, praticamente TODA pesquisa científica em TODAS as suas formas possíveis (bolsas, auxílios para projetos, eventos, publicações, infra-estrutura, coletas, etc) são financiadas com dinheiro público no Brasil. É uma característica da nossa "máquina" de produção de conhecimento científico. Mas acredito que outras formas de divulgação de ciência, envolvendo debates e conferências, podem ser pensadas de modo a incluir o leigo, ou entusiasta, sem custo de participação. Sou amplamente favorável a iniciativas desta natureza.
abraços, ana
Prezada Ana. Obrigado pelo comentário. Espero que outras pessoas participem para que possamos discutir mais estas questões. Gostaria de me manifestar novamente. Em primeiro lugar, não sou contra as sociedades organizadas, muito pelo contrario. Entretanto acho que elas beneficiam (até o momento) muito pouco a sociedade em geral (nação), pois não tenho percebido a manifestação (com exceção da SBPC) das nossas sociedades (SBG, SBBq) em relação aos temas que as envolvem (terapia gênica, células tronco embrionária, financiamento de pesquisa, emprego para pesquisadores-recem doutores). E os benefícios aos associados? Na SBG?... uma revista que não é indexada, desconto na inscrição no congresso (80,00 para graduandos, 120 para estudante de pós-graduação e 260 para profissionais). A inscrição para um profissional não-socio (digamos um professor de ensino médio ou ate mesmo de ensino superior) é de 500 a 600 reais. Se este profissional tiver interesse em se atualizar, terá que gastar o seu salário mensal para se inscrever no congresso ou se afiliar a varias sociedades. Continuo insistindo que palestras, conferencias deveriam ser abertas ao publico. O problema é que as sociedades acabam utilizando os congressos para fazer o caixa da sociedade. Se o dinheiro arrecadado no congresso fosse utilizado exclusivamente para a organização do mesmo, a inscrição seria muito mais acessível. É só acompanhar a prestação de contas da SBG no próximo congresso. Um abraço
Paulo Ferreira
Caro Paulo,
Concordo que a contribuição das sociedades científicas para a sociedade deveria ser mais ampla (e mais divulgada). Me parece que esse fraco desempenho no quesito "participação social" possa refletir um comportamento encontrado no cientista em geral (com raras exceções), cujas prioridades são pesquisa e ensino. A atividade de "extensão", que é amplamente difundida como um dos tripés do sistema acadêmico (ensino-pesquisa-extensão), muitas vezes é voltada para a comunidade extra-universitária (benefícios para a sociedade). Mas isso nas universidades, quanto às sociedades concordo que é mais difícil enxergar essa "ponte". Ao invés de abolir a taxa de inscrição, imagino que soluções específicas poderiam ser adotadas, como no caso da participação de professores do ensino-médio (muito bem lembrado por você), que poderiam usufruir um desconto como ocorre para os estudantes de pós-graduação. Por outro lado, na SBG pelo menos, a atividade Genética na Praça (voltada para estudantes e professores do ensino médio) é uma conquista neste sentido. E acredito que outras iniciativas similares sejam implementadas conforme a participação destes profissionais em congressos científicos se torna cada dia maior. Aí é que está outro ponto: a inscrição do congresso não é utilizada apenas na organização do mesmo (vou tentar acompanhar a prestação de contas este ano, mas preciso me preparar psicologicamente pois esta certamente não é uma das sessões mais animadas do evento, ainda me lembro bem da última vez que presenciei uma...). Com a participação de mais sócios (e consequentemente, o pagamento de mais anuidades) talvez "o caixa" das sociedades não dependesse tanto da inscição. Realmente esse tema congrega muitas opiniões e divergências, promovendo a oportunidade - saudável - de debatê-lo. Um abraço,
ana
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