quarta-feira, junho 07, 2006

a pré-história do DNA mitocondrial do Neandertal

A análise do DNA mitocondrial tem se mostrado, cada vez mais, um recurso valioso para recuperar informação genética (reduzida a pequenos trechos de sequência nucleotídica) de material de museu, fósseis e amostras degradadas. A possibilidade de vislumbrar (ou mais propriamente, inferir) lances da história evolutiva humana a partir da informação contida no DNAmt de uma amostra do Homem de Neandertal beira a ficção científica, mas é uma realidade incontestável, já há alguns anos. Desta vez o estudo em questão saiu publicado no periódico científico Current Biology, sobre a diversidade genética do DNAmt Neandertal de 100 mil anos de idade ("Revisiting Neandertal diversity with a 100,000 year old mtDNA sequence" doi:10.1016/j.cub.2006.05.019 ). Estudos anteriores haviam utilizado amostras com "idades" entre 20 e 40 mil anos, época em que se supõe que Neandertais e Homo sapiens possam ter co-existido e, eventualmente (mais suposição ainda) produzido híbridos. Este estudo se propôs a voltar mais no tempo, de modo estudar a diversidade genética do DNAmt de amostras Neandertais não-contemporâneas do homem moderno - nota: acredita-se que eventos de substituição de populações humanas, hibridação e outros episódios evolutivos possam ser revelados através da comparação de polimorfismos (diversidade) encontrados no DNAmt de humanos modernos e Neandertais (considerando as diferentes idades) - e assim contribuir para avaliar o impacto que o contato Moderno X Neandertal produziu e sua relação com o desaparecimento desta última linhagem. Este estudo apresenta a amostra Neandertal mais antiga já analisada em termos de DNA.
É importante notar que o estudo é baseado na análise de - apenas - 123 nucleotídeos (ou pares de base - pb) de uma região hipervariável do genoma mitocondrial (HVR-I) de 1 amostra de 100.000 anos, comparados com a mesma região de outros 9 espécimes de Neandertal (bem mais novinhos) e de um banco de dados com 171 HVR-I humanas. Apesar do feito fantástico de recuperar informação genética deste tipo de amostra (onde, devido ao grau de degradação da molécula de DNA, foi impossível recuperar sequências íntegras com mais de 170pb), obviamente não se espera uma revolução em termos de desvendar a história evolutiva humana com tão pouca informação. Então não é se se estranhar que o artigo termine com a seguinte frase:
"Thus, more Neandertal sequences
than the six presently available
and longer than 100 bp are
needed to fully understand the
extent of the past diversity of
Neandertals
."
Contudo, associados a outros estudos, estes resultados podem - sim - auxiliar na compreensão deste cenário evolutivo fascinante.
Material suplementar utilizado neste estudo pode ser encontrado aqui.

5 comentários:

Anônimo disse...

ja se sequencia dna nuclear de neandertais; mtdns e irrelevante

via gene disse...

Ah é... deve ser por isso que o artigo foi publicado numa revista chinfrim como a Current Biology... pior é que "ganhou" a capa!!!
ana claudia

Anônimo disse...

sou estudante de biologia da UEPB, gostaria que a doutora Ana Claudia fizesse um breve comentário a respeito deste artigo. agradeço antecipadamente!

Elyson Scafati disse...

Oi Ana

Uma pergunta:

A respeito da evolução humana. sei de um estudo sobre DNA mitocondrial que indica uma linhagem feminina e um rastreamento do cromossomo Y.

Tais estudos, salvo engano, indicaram 2 mães e 4 pais para toda a humanidade ou vice versa.

Tal estudo tem credibilidade? Os números que citei estão corretos?

Por favor, me responda.

Agradeço sua atenção.

via gene disse...

Olá Elyson,

Obrigada pelo comentário, vou verificar os dados que vc indica nos artigos originais, OK? A hipótese da Eva Mitocondrial indica a origem africana do Homo sapiens e a análise do cromossomo Y contribui para esclarecer este cenário incluindo informação genética paterna (pois só a mitocondria materna é herdada pelos filhos - na grande maioria dos animais, inclusive o homem). Curiosamente, acabei de incluir mais um "post" sobre evolução humana e a questão da origem africana. Dê uma olhada se tiver tempo!
ana claudia